
A Sereia Do Abismo
Colocou o biquini, levou uma toalha, e foi sozinha tentar saturar seus males na água com cloro. Como se sentiu bem. Pulou, e se permitiu para ser levada nas profundezas marinhas de sua piscina. A água lhe acariciando a pele, lhe levantando pelos braços até a superfície, e ela com os olhos fechados, só fazia se imaginar ela própria sendo uma sereia a nadar por aquelas águas como se tivesse feito isso a vida toda. e com isso foi lavando suas chagas, suas feridas, e seus remorsos.
Ela era espetacular. Corpo longilíneo, magra, pele clara e cabelos castanhos escuríssimos, quase pretos. E uns olhos... Nossa, que olhos! Tão azuis quanto a própria água da piscina, contrastando essa claridade com a escuridão de seu cabelo. Palavra sombria, escuridão.
Relaxou, e pensou no que ia fazer hoje. Estudar, estudar, estudar. Queria medicina. Era inteligentíssima. Ou será que seus pais queriam tanto que o seu querer se transformou no querer da filha? Seu coração sempre lhe disse para fazer Letras. Era inacreditavelmente sensível. Ou não fazer nada, pois nenhuma faculdade lhe dá a permissão para escrever, e isso ela fazia com maestria. Ela era uma exímia poetisa, e a única coisa que fazia melhor do que escrever era cantar. Na aula de canto seu apelido era Ariel. A voz era sublime, e mais etérea e leve do que o ar. Apaixonava os que ouvissem desavisados seu canto.
Mas então a pressão da vida foi mais forte do que a força de seus sonhos, e ela se lembrou que estava perdendo tempo demais na piscina. Tinha que estudar, seu concorrente estava estudando. O Sol estava brilhando, e o dia estava quente, a piscina tão fria, fresca... Mas ela teve que sair do mundo dos seus sonhos, e abriu os olhos para enxergar de novo o Sol... Mas não havia Sol.
De repente, seu mundo se apagou, e se tornou uma completa escuridão, o breu do fundo do oceano. E ela abria os olhos, mas não fazia diferença, era como se permanecessem fechados, selados. Ela estava cega.
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