terça-feira, 18 de outubro de 2011
Artesão dos Inversos
Artesão dos Inversos
Bate o martelo, Ferreiro,
Erupções aéreas em estalos,
Efêmeras, como a vida,
Outra faísca que deu errado.
Os contornos da tiara tomam forma,
O ouro ganha seus ares de realeza,
E o diamante, branco, entorna
A esquife de mil vidas negras.
A peça de infinita beleza,
Orna os cabelos celestes,
De quem já encarna a tristeza,
De se carregar o que é inerte.
A beleza ama a guerra,
E sua alcova é violenta,
Corrompe a inocência de um coxo,
Por ser tão belicosa oferenda.
Hefesto flagra a cena,
E condena os casais,
Acorrentando como pena,
O leito e a morte que ela traz.
Afrodite encara Ares,
Sentenciada a adorar a morte de frente,
Beijo por beijo, travando os mares,
Rosa por rosa, rangendo os dentes.
Enquanto o Ferreiro se engasga,
Com a flecha preta do ciúme,
Travam no meio da garganta,
Os gritos roucos no curtume.
E o artesão maneja o primordial,
Esmera nas sua criação,
Tirando do ventre da terra,
Um próximo de perfeição.
Mas é coxo e feio.
Poeta dos sonhos mortos,
Dos aços que se partem no seio,
Das belezas frias e inanimadas,
Das reluzes apagadas,
E das obras que param no meio.
De suas mãos tortas se faz o belo,
O ouro a tinir, vitral,
E a luz da pedra que some,
Um espelho convexo inverso,
Da beleza que o consome.
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