quarta-feira, 26 de maio de 2010

Lágrimas de Tinta



Lágrimas de Tinta



Lágrimas salgadas e pantanosas,
Não são densas nem belas,
Para diluir a dor e a tristeza.

Lágrimas pretas de tinta,
Luto carimbado no branco,
Mancha umbra na felicidade.

Troquei o reflexo do orvalho,
Pelo breu frio de uma caneta,
Troquei até as lágrimas de sangue,
Pelo veneno belo desta tinta preta.

Amálgama dos Prazeres




Amálgama dos Prazeres

O retalho dos meus desejos,
Meu coração sincopado,
Se confunde nos teus beijos,
Batuque agalopado.

O teu peito ofegante,
Tuas brisas duvidosas,
O teu olhar lancinante,
Tuas luzes curiosas.

A promessa cor de prata,
Nos teus olhos refletiu,
A incerteza me rapta,
Do meu sonho mais sutil.

Caia entre meus braços,
Deite em meu peito forte,
Forjado em calor e aços,
Martelo de exato corte.

Onda que na pedra bate,
Insistindo pelas eras,
Revelando a frágil arte,
Que seu âmago espera.




To F.

segunda-feira, 17 de maio de 2010






Apenas Dói



O amor quando muda de pena, dói,
Passarinho quando muda de pena, dói,
Desejo quando muda de pena, dói,
Sonho quando muda de pena, dói.

Árvore que perde a folha, dói,
Flor que se despetala, dói,
Rosa que perde espinho, dói,
Mandacaru que ganha flor, dói.

Boi que perde o chifre, dói,
Cabrito que ganha chifre, dói,
Serpente que ganha escama, dói,
Lagarto que perde escama, dói.

Cigarra quando troca a casca, dói,
Lagarta que ganha casulo, dói,
Borboleta que se liberta, dói,
Casulo que despedaça, dói.

Onda que quebra na terra, dói,
Montanha que se despedaça, dói,
Vulcão que se abre, dói,
Flor que desabrocha, dói.

A gente quando nasce, dói,
A gente quando vive, dói,
A gente quando morre, dói,
E para quem fica e chora, dói.

A mão que Balança o Berço





A Mão que balança

O Berço





A mão que balança a faca,
A mão que balança o berço,
O vai-e-vem da faca,
O vai-e-vem do berço.

A mão que balança o berço,
A faca que corta o corpo,
O choro inacabado,
Pra começar tudo de novo.

A faca que corta o corpo,
Pedaço por pedaço,
A faca que trava no braço,
Indo e vindo de novo.

A mão que balança o berço,
É a mesma que balança a faca,
Cortando o corpo inteiro,
Até não sobrar mais nada,

E nesse vai-vem,
A faca dilacera o neném,
Choro de sangue deságua,
Cachoeira que sai do corpo.

A mão que balança sorri,
A faca agora travou,
O berço continua a balançar,
De chorar o neném, parou.