quinta-feira, 29 de julho de 2010

Eu, Exilado de Mim





Eu, Exilado de Mim



Cheiro de chuva que refrigera a alma,
Gosto de mar salgando a boca,
Sol que queima a pele num ardor gostoso e amorenado.

Vento marinho que acaricia o corpo nu,
Modelando vestes aéreas na varanda,
Reflexo na praia daqueles olhos.

Cheiro de livro antigo falando do sertão,
A saudade cálida das campinas do interior
E a promessa de um sonho bom,
Que margeia Luanda indo pela Mata Sul.

Até encontrar Neméia no Alto da Sé.
Retornar ao berço pernambucano.
Eu, exilado de mim mesmo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Virgem


Todos viram que eu mudei algumas coisas no blog, e principalmente que eu mudei o nome. Alguns elogiaram, a maioria não gostou, preferia o antigo.

Mas essa mudança teve um propósito sombrio premeditado e articulado. E ainda uma razão. "Lesera não, a Mulesta", exprimiu com perfeição o meu objetivo ao criar o blog: comédia, filosofia, regionalismo, reflexões, e acima de tudo, leseira.

Mas o blog aos poucos foi se transformando ao passo que meus anseios também se transformaram, necessitando assim de uma coisa nova, mais específica, coerente, e atual. A leseira passou, a poesia ficou. E como "fazer samba não é contar piada", as duas coisas dentro do meu mundo não podem coexistir, e o mais forte sempre prevalece, e o lirismo nesse caso venceu.

A luz de Virgem, ou À luz de Virgem, representa a razão, a beleza, o facho de brilho que ilumina tudo, e rompe a escuridão trazendo nada mais que a verdade e a beleza. O trabalho realizado pela intelectualidade movida pela paixão. E este, no fim das contas, é o MEU trabalho. Escrever é so mais um deles.

domingo, 25 de julho de 2010

Dinâmica Botânica

Pra começar, eu pensei em botar mais uma foto de uma imagem bonitinha com flores, mas só no meu blog já têm tantas, que não vou precisar colocar mais uma, e é justamente sobre essa abundância que eu quero falar.

Carlos Drummond de Andrade achou 122 sentidos diferentes para metaforizar usando uma flor.

Flor bela, linda flor, rosa vermelha, rosa branca, rosa cálida, rosa de hiroshima, flor de primavera, flor de cerejeira, a flor da morte, a flor da vida, a flor da castidade, a flor do sexo, a flor feminina, a flor masculina, a flor sagrada, a flor profana, o vento que bate nas flores contando as historias que sao de ninguem, seio em flor, rosa da literatura, flor colorida, flor desbotada, rosa preciosa, rosa exata, in bloom, o desabrochar da rosa, o despetalar de suas pétalas, o espinho contraditório, o caule clorofilado, as pétalas e sépalas, a corola, e o Corola cor-de-rosa da madame. A Power Ranger Cor-de-rosa, a Pantera Cor-de-rosa, Hello Kitty, a rosa de hiroshima, a flor do rio, a flor do mar, a flor da praia, a flor da terra, o cio da flor, a flor tropical, a flor glacial, a flor atrás da orelha num disco qualquer, e pra não dizer que não falei das flores, as flores da avenida, verde e rosa, a flor de Jamelão, a flor negra, a flor branca, a flor de estanho, a flor de metal, a flor de maracujá, a flor do cerrado, Florbela Espanca, Margarida, Girassol, a flor das flores, a mais linda flor...


Não foram estes sentidos que Drummond achou, estes são só os que eu achei.
Porque será que os escritores, os poetas principalmente, usam com tanta abundância a da imagem flor para traduzir, metamorfoseando-se nas ideias que faltam, ou que sobram, nas palavras dos poetas?

O homem quando se desdobra sobre o papel e a caneta, revela nesse momento, desabrochando o seu eu-flor, o eu-lirico e o eu-sou, e em uma homenagem metalinguística reflexiva e inconsciente, o poeta se retrata nesse seu próprio momento de transformação, dentro de uma dinâmica botânica, se tornando pétala, beleza, e luz, nas suas formas e cores mais variadas.

A imaginação e capacidade criativa dos poetas de se produzir coisas belas, está limitada pela altura que o caule da flor atinge, e está multiplicada pela quantidade de vezes que uma gota de orvalho numa pétala refrata a luz em suas moléculas.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Um dia de chuva






Um dia de Chuva

Em um dia chuvoso, eu e meus colegas estavamos sentados na antiga varanda da casa que agora funciona como secretaria. Era um dia de chuva, frio e cinzento, transpirando tristeza em uma dose bem concentrada.
No nosso grupo, tinha um casal que ria, se abraçava, e se beijava... Minhas tentativas amorosas não iam bem, logo, como ser humano, senti uma certa inveja. E eu permanecia lá, com cara de poucos amigos escutando música no meu mp3 já ultrapassado. Cena digna de novela mexicana.
E então, como golpe de misericórdia, eles vão caminhar e tomar um banho de chuva, correndo, brincando, se abraçando, com sorrisos mais brilhantes que propaganda da Colgate.
E então, eles voltam, encharcados, com frio, sorrindo, belos. Muito mais belos do que antes, como se tivesse lavado a alma, e a beleza dessas almas transpirasse para o corpo, se mostrando em forma de um sorriso.
E então a chuva para, e eu não pode deixar escapar um sorriso, contagiado pela felicidade deles. A chuva parou. O sol atravessou as árvores que reteram a água, refletindo uma sinfonia de brilho num verdadeiro espetáculo, montado pela Natureza, para os olhos de quem sabe apreciar a sua perfeição.
Entendi então que existe uma força divina que nos presenteia com tudo o que precisamos, e só as as vezes admiramos, sem pedir nada em troca. E nós temos somente a escolha de ficarmos na varanda sem nos molhar, ou podemos tomar aquele banho, de preferência sorrindo, e voltarmos à varanda: Molhados, belos, e iluminados.



Pedro Antônio, 2006.

Penas do Querer





Penas do Querer

Onde está você,
Asas do amor,
Penas,
Duras penas do querer.

Rosa com espinho,
Peixe com espinha,
Uva de meu vinho,
Tóxica fruta.

Lâmina cega e santa,
Encontro no escuro,
Mulher de califa,
Peregrinação em pedregulho.

Maçã dourada,
Dos deuses ninfa,
Escudo, punhal, espada,
Ferem menos que ti, sinta.

Sagrada serpente,
Dilúvio milagroso,
Amaldiçoado ventre,
Amor tempestuoso.

Te querer é tocar os céus
Com a ponta dos pés no inferno,
Que sórdido masoquismo,
Me faz te querer assim,

A loucura do meu desejo,
Me faz procurar incansavelmente,
Teu corpo, teu beijo,
Louco, quente.

Aonde está você,
Asas do amor,
Penas,
Duras penas do querer.



Pedro Antônio, 2008.

Indecisão Marítima




Indecisão Marítima


Teu coração tão inconstante,
Ainda aprende o que é amar,
Eu e você somos ilhas distantes,
Soltos na incerteza do mar.

O polígono do amor é sempre severo,
Escolhas são feitas,
Se quebram os elos,
Do amor ou da amizade,
Por isso, me diz a verdade,
O que tu sentes é amor ou vaidade?

Calor que vem de dentro,
Calor que vem de fora,
Você tem que saber escolher,
Pois o amor e o querer,
Não estão presos às horas.

Teu castelo de carinho é de areia,
Está à deriva do amor,
E foi feito para as sereias,
Vorazes a se fartar,
De corações apaixonados,
De homens desavisados,
E mulheres sempre a acreditar,
Que o segredo da felicidade,
É simplesmente amar, amar, e amar.


Pedro Antônio, 2008

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Aço do Sofrimento



O Aço do Sofrimento


A pedra, o chão,
O céu, um álibi,
Meu amor, desilusão,
Ponta de grafite procura,
A senha do teu coração.

E tu a me devorar todo o amor,
A consumir todo o meu desejo,
Tudo isso a troco de um beijo,
E por mais balsâmico que seja,
Eu te trocaria minha gueixa,
Por uma boca mais doce e vermelha,
Por um aguardente amargo qualquer,
Por aquele sumo sacrossanto de cereja.

Porque teu véu me prende assim?
Além da tua pele branca,
Refletindo o céu enluarado de teus
Cabelos, esses teus olhos,
Abismos laurentos de desejo,
O teu sorriso, essa tua face,
Inspirou meu iluminismo herdeiro,
De tua luz, tua sombra, meus fantasmas
A purjar, mordazes a forjar,
O aço do meu sofrimento,
Um eterno não,
E um cabelo preto solto ao vento.




Pedro Antônio, 2007.

Ravenous Nile




Ravenous Nile



Shiny Gold statues,
The sunshine make them bright,
The moonlight make them wise,
And she makes me happy.

The egyptian goddes want all my body,
All my soul and all my love,
And I can feel her madness´s touch.

Cleopatra, Isis,
The river is trying to save me!
But who says that I want to be saved...

Bloody sands, Ravenous Nile,
Dodge from the all with grace,
Make them all cry with style.

The ancestors have cursed me,
But I want to scape,
I intend to be free,
Let me in,
In the heavens gates.



Pedro Antônio, 2007.


sábado, 3 de julho de 2010

Manequim das Vaidades





Manequim das Vaidades


Você não soube me amar, nem soube me aceitar, me joguei de corpo e alma, te revelei os segredos inconfessáveis, te confiei meu espírito, meus desejos, e tu me prometesse o céu, e eu te prometi a terra.
Você não me quis, somente, desprezou tudo, simplesmente, pois a verdade era grande demais pra você. Mas você vai pagar, e vai pagar com juros o amor que tu me prometesses e não cumpriu, pois é um pecado forte demais matar à sangue frio os sonhos que você mesmo plantou em outra pessoa.
Por isso eu te amaldiçôo. Eu te amaldiçôo, eu te amaldiçôo. Você vai sofrer tudo o que eu sofri, e pior. Você vai ter uma longa vida para se amargar sozinha. Completamente só.

Você vai ser o avesso de uma vitrine, vai ver a felicidade diante dos teus olhos, e ela te olhará bem de perto só para conferir o preço, e achar caro demais pra uma peça tão simples, e vai te jogar no poço escuro da solidão, manequim obsoleto das vaidades.
A felicidade vai passar tantas vezes diante dos teus olhos, em uma multidão multicolorida desbotada, que você irá se acostumar com a sua presença, e tuas correntes de mulher contida engessarão as tuas pernas, enquanto na tua mente fervilha em sangue a luxúria e a lascívia. E o vidro da minha maldição envidrará o teu caminho, materializando para sempre a parede invisível que te separará da felicidade.

E a única coisa que se ouvirá da tua boca costurada, será o grito de agonia abafado ecoando na eternidade das vitrines gélidas da vida.

Mel





Mel


Amor bom, amor puro, amor gostoso.
Amor que não se compra, amor que só se divide.
Amor canino, amor fiel, amor branco.
Amor que abraça tudo, com o olhar jubilante,
A língua pra fora, o peito ofegante,
A cauda que balança.

Sombra branca, reflexo de olho, negro,
Afago generoso, afago incansável,
Inspiração sincopada, nome doce,
Orelhas arqueadas, carreira bonita,
A década você não fechou,
Cauda que balança.

Cadê você pela casa, me acompanhando?
Cade você na estrada, me olhando?
Cadê você no meu colo, me amando?
Profundamente me amando...
Amor bom, amor gostoso, amor canino,
Amor infinito...
Eu só te acho na artéria ingrata do meu coração,
E em mais nenhum outro lugar.
Cadê você, Cauda que balança?