segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Autômato




Autômato

Cai gota a gota,
Como a vida que se esvai,
Sobrando apenas o reflexo,
Da ciência inválida e incerta.

Cai a gota da paciência,
Da força e da felicidade,
Cansaço que não tem idade,
Nem chega na hora certa.

A correnteza leva tudo,
A vida nem tem pieadade,
Da fraqueza, da solidão,
Quando mais da inabilidade.

Eu cansei da vida,
E também cansei da morte,
Já vivi demais em sua sombra,
E gozei muito de sua sorte.

Autômato por destino,
Luto por um rei que não conheço,
Não tenho sonhos nem amigos,
Nem faço de Deus apenas um terço.

O Silêncio dos Pássaros





O Silêncio dos Pássaros

O Rouxinol não canta do mesmo jeito,
Seu canto murchou,
Sua garganta perdeu a vida,
As cores, o som, a alegria.

Também já não é Acauã,
De canto agourado,
Que traz a seca e a morte.
Nem a tristeza agora é motivo pra se cantar.

Um dia foi Assum Preto,
Canto cego de dor,
O Véu Negro que espalhava
Ignorância, força e temor.

Asa Branca que não voltou,
Esperando que caia a chuva,
Assum Branco que desapareceu,
Deixando nas veredas e no sertão,
Que ecoem livres,
O silêncio e o breu.

Ganso triste e odioso,
Boiando na insanidade,
Pensa que é cisne, rancoroso,
Choro velado no silêncio,
Geme talvez,
Por piedade.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Um Nazgul na Calçadinha




Nado era um típico Nerd João Pessoense, viciado em Senhor dos Anéis, misantropo, devorador de livros, e pronto pra cursar medicina. Não tinha amigos, muito menos paqueras. Estava estressado com o vestibular, quase entrando em parafuso com a vida ridícula que levava, quando um dia teve uma ideia genial:

- 'Vou me vestir de Nazgul daqui em diante.' Disse Nado. Comprou o que precisava, manufaturou as vestes pretas e as armaduras metálicas de verdade. Sua mesada era vasta como os domínios do Mestre Sauron em Mordor, e sua sabedoria na manufatura de cosplays ultrapassava a de Saruman, Gandalf, Elrond e Radagast juntos.

Ficou pronta. Foi jantar com ela. Os pais na mesa, dois funcionários públicos conservadores, olhando pro "filho" encapuzado, sem o rosto à mostra, parecendo o demônio entrando na sala de jantar.

- 'Melhor não dizer nada', sussurrou a mãe. 'Vai passar, é só uma fase, uma neurose'.

Nado dormiu com a fantasia. Não antes de fazer algumas reservas para quando precisasse colocar pra lavar as outras. Virou um exímio costureiro de mantas negras longas. Pena que não era mais Idade Média. Ia ter que ser médico para ganhar a vida, ou coisa do tipo.

Passou a semana inteira, em todos os lugares vestido de Nazgul. Na padaria, no Shopping Manaíra, na Calçadinha. Não é necessário descrever a reação das pessoas. Poucos ousavam perguntar, e os que perguntavam eram respondidos com 'A sombra da morte cai, as vezes, de forma alegórica, e outras de uma forma um tanto literal, sobre nossas almas'.

De pânico a ataque de risos, Nado não passava despercebido. Começou a chamar muita atenção.

Em alguns lugares, claro, ele não era bem vindo. No colégio por exemplo, ele so pôde usar uma capa mais leve. 'Nada na "legislação" do colégio proibia tais "casacos"', disse em sua defesa ao diretor, que relutantemente cedeu sob pressão de um processo, e talvez de uma espadada do "louco".

Fez amizades, talvez até seguidores. Outros Tolkianos o admiraram. Outros invejaram seu poder. Começou a ir para as raves vestido assim. Seu sucesso entre as garotas foi impressionante! Algumas tem uma queda por lunáticos, outras por góticos, outras por pessoas estilosas e originais. Ele, aparentemente, tinha tudo. Virou sócio do Excalibur.

Passou no vestibular de medicina. O tema da redação era um tanto difícil e estranho aos alunos e professores: a influência da literatura inglesa da década de 50 sobre a nossa vida contemporânea. Foi um dos únicos alunos a fechar a prova. Os professores, pelo visto, também eram fã de Tolkien. Nado daria a melhor aula sobre a geografia de Rohan, a história de Rivendel, os estudos sociológicos em Bree. Ele daria uma aula sobre tudo isso, imagine uma redação sobre a influência do seu escritor maior?

Nado parou de ser assaltado. Os malandros tiveram medo de sua possível 'Inskizofrênia', como diziam entre si enquanto ele subia a Epitácio, em seus mantos. E um uma vez um deles se atreveu a tentar, numa crise existencial 'Doido nenhum pode comigo e meu canivetezin'.

- 'Passa tudo', disse o assaltante. Nado só fez desembainhar a espada enorme, presente de formatura, afiada, e finalmente pôde ativar o sistema de som que além de transformar sua voz em sussurros macabros, soltava os guinchos de terror draconianos típicos do filme numa altura absurda. Coisa de arrepiar os cabelos até do Padre Quevedo. O assaltante correu até a Estação Ciência até o medo diminuir um pouco.

Eram hilariantes os momentos também em que ele passava na frente da Universal em momentos de culto. Indescritíveis. J.R.R. Tolkien teria inveja de não ter inventado essa narrativa.

Nado x Os Crentes da Universal.

Virou noticia. Passou no Jornal Nacional. Deu uma entrevista pro Fantástico, editada com tons debéis na transmissão. Não se importou. Tinha já uma legião de fãs. Os que tiveram coragem tentaram imitar, foi interessante no começo, mas nenhum teve tanto coração, afinidade e talvez falta de noção o suficiente para persistir. Ele permaneceu único e imaculado na sua originalidade.

No Carnaval ele chegou a se vestir de Witch-King. Nas festas Cosplays de Sauron. Como se o Nazgul se fantasiasse de seus mestres. Ele permitia nessas horas sair da monocromátisse mórbida. Mas seu cotidiano era Nazgul.

Começou a ir para a faculdade vestido assim. Teve problemas com a reitoria, mas nada que um agrado (e uma ameaça não resolvam). Ele já tinha amigos poderosos. Permaneceu na seu uniforme diário e inejoável. Uma simbiose entre a roupa e sua alma, como ele mesmo descrevera.

Ele manejando os corpos do IML era um espetáculo à parte. Filas e mais filas se formavam vendo aquela cena macabra e irônica.

Se formou. Passou na prova da residência. Foi pro Hospital de Traumas. Terminou e montou uma clínica psiquiátrica. Era temido e amado pelos pacientes. Sim, ele dava consultas como Nazgul. Não, ninguém o impedia.

Casou e etc.

Os anos foram passando, suas roupas amarrotando, envelhecendo, ficando cada vez mais reais. E a vida foi tirando aos poucos o que lhe fora dado no começo. E por fim, aos 82 anos, com uma vida próspera, Nado morreu. Vestido de quê? De Nado. Ou pelo menos era isso os que os parentes achavam. Mal era reconhecido sem suas lúgubres vestes augorentas. Uma linda senhora companheira, 2 filhos e 1 neto. Uma vida cheia de amores, realizações, desafios, conquistas, originalidade, racionalidade, força, e imaginação. Mas até no velório diziam que ele não batia bem da cabeça. Mas com 82 anos, poucos permanecem com a mesma lucidez da juventude não é mesmo?

domingo, 19 de dezembro de 2010

The Skyline´s Dream


The Skyline´s Dream

A new light over an old shadow,
With a Sun´s essence,
And bright in the eyes.
The Sky´s smile,
Like a dawn in the Ocean.

The flash can be marine,
Indigo like a siren song,
Almost Glacial.
The other face of the mirror,
The reflex of the Vast.
Deep like a mother´s heart.

My Darkness need one of them,
The Cold Navy,
The warm Scarlet.
It doesn´t exist a Ligthing Purple.
Not in this life.

A kiss of two edges,
They want to become one,
But the thin wire of life
Do not allow it.

Eternity and endless,
Two Titanic souls.
A dream so impossible,
That dares the own Destiny purpose,
Of The Sky,
Of The Sea.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Carcarás das Cataratas




Carcarás das Cataratas

Se no Sul tem Carcará,
Por que ele é Nordestino?
Se eu o vi no Paraná,
Mas o via antes desde menino?

Carcará: pega, matar, e come.
O Carcará seria um homem?
Que veio provavelmente num Pau-de-Arara
E matou a Arara no meio do caminho.

No Sertão ele mata Tatu,
Nas Cataratas mata Quati,
São Francisco ou Iguaçú,
Sabiá e Bem-te-vi.

Garra que cresce na carne,
Bico que se amontoa em vísceras,
Fétido de urina e sangue,
Brilha por ser narcizista.

Lixa



Lixa

Cai e bate na pedra,
Percorre e cai no Mundo,
Moldando a Pedra, e o Mundo.

Sopra e risca a pedra,
Voa e risca o Mundo,
Desenhando a Pedra, e o Mundo.

Queima e consome a pedra,
Se espalha e consome o Mundo,
Forjando a Pedra, e o Mundo.

A Pedra é própria Pedra,
Onde a Pedra é o próprio Mundo,
Sendo todo o mundo uma mesma Pedra,
Como uma pedra, por ser pedra,
Ou mesmo por ser mundo,
Lixa outra pedra?

domingo, 12 de dezembro de 2010

Desculpem pela tela monocromática de tantos posts. Ultimamente minha vida ta um tanto branca e preta mesmo. Só Chaplin fazendo leseiras ao fundo de bom mesmo. (Adoro quando ele come cocaína na prisão).

Olha só, que avanço, já estou escrevendo para interlocutores. Sem a distância fria e mecanizada. Vou variar.

Estou em Curitiba, e indo para o Paraguai. Uma viagem básica de 9 horas no ônibus, sozinho. Meus pais e uma galerinha ai vão de carro mesmo. Aqui de 09 horas da noite o sol começa a se pôr. Porra, seu relógio biológico vai pro inferno.

Sim, quanto aos poemas só consigo escreve-los nas aulas de matemática. Efeito maconha, viajo tão longe para outros lugares que acabo me inspirado com a menor das ideias. Eu posso escrever um poema na hora que eu quiser, mas só fica divertido e com qualidade quando me vem uma ideia original. Se eu escrever alguma coisa vcs ja podem imaginar pelo quê eu substitui rsrsrsrs

Ansioso pelo pss. Medo de não passar. Me fudi no pss2. Mas meu maior problema é a solidão que me consome por dentro.

"A solidão é fera a solidão devora, é amiga das horas e prima-irmã do tempo, e faz nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso no meu coração."

Alceu Valença.

Estou sozinho de mim mesmo. Junto somente das minhas falhas e vícios. Pelo menos sou livre de mágoas. Leve e triste como uma neblina. Eita, olha um motivo original ai pra um poema.

Quem vai para Maria Bethânia? rsrs

Até o nome dos acessórios mediévais de Senhor dos Anéis estão sendo batizados com um nome ai...
Ta foda.

"O amor é uma força da Natureza." E ta pior do que chuva ácida, furacões, maremotos, erupções e tempestades de raio ao mesmo tempo.
Ta foda.

"Você atravessando aquela rua vestida de negro,
E eu te esperando em frente a um certo bar leblom,
Você se aproximando e eu morrendo de medo,
Ali bem mesmo em frente a um certo bar leblom.

Quando eu atravessava aquela rua morria de medo,
De ver o teu sorriso e começar aquele velho sonho bom,
E o sonho fatalmente viraria pesadelo,
Ali bem mesmo em frente aquele velho bar leblom.

-Vamos entrar
-Não tenho tempo
-O que é que houve?
-O que é que há?
-O que é que houve meu amor, você cortou os seus cabelos?
-Foi a Tesoura do Desejo, desejo mesmo de mudar."

Alceu Valença. De novo.

Essa música eu escuto incontáveis vezes, nunca me enjoo, e sempre descubro uma coisa nova.

Sim. Desejo de mudar. De explodir, de viajar pra bem longe e demorar muito pra voltar. Eita, só falta explodir.

Nossa, como viver dói ¬¬
E amar é uma cauterização diária.
E amar quem não se deve é ser impalado por uma lâmina de ferro em brasa. Todo dia.
Cupidos sádicos deveriam ser decapitados nera não?


Me chamaram de hipócrita ontem... ern... Se eu sou hipócrita eu to aproveitando isso muito mal :P

Esse post ja ta virando quase uma consulta no analista. Só falta ele responder dizendo que eu não tenho cura hahahahahaha :P

Vocês preferem assim, ou a unilateralidade múltipla de cada um dos meus poemas? Queria poupar as pessoas de lerem essas besteiras. Mas as vezes as letras e a solidão são mais fortes do que o meu altruísmo diminuto. Bem diminuto.
Quero comentários. O que der na telha. Para exaltar, esfaquear, ou os dois.

Bid my blood to run, meu sangue ta coagulado demais. A signal of life. Any.

A vida que brota no papel é amorfa, abstrata demais, e ultimamente sem cores. Nada comparado aos canteiros multicoloridos desbotados pelas minhas cataratas do Iguaçú.
Acho que isso foi porque perdi um bom poema chamado Vida. Ela ta se vingando. Já ta bom né? Ja descontou demais, 56x1 pra vc.

Não, eu não fumei nada. Juro.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

"Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil."


Fernando Pessoa.