domingo, 18 de abril de 2010

Misantropia Escandalosa



Misantropia Escandalosa



Que misantropia escandalosa,
Que balança as pernas desse ser,
Se mexe assim tão caudalosa,
Que nem a felicidade pode ver.

Os seus contornos enclausurados,
revestem a flor do seu encanto,
E os seus cabelos desenrolados,
Enxugam de sua face o seu pranto.

No trabalho ela se esmera,
Com uma vontade tão atroz,
Persegue assim sua quimera,
Em uma cavalgada feroz.

Mas quando se cansa ela deita,
Se conforta no leito de seus sonhos,
Com o brilho dos olhos se enfeita,
E esquece os medos medonhos.

The Night Queen





The Night Queen


She has green eyes like the sea,
A golden hair from the sun,
Dark skin as a night queen,
But she´s blind, she can´t see,
I´m the one.

She can´t see all my love,
As big as the earth,
She can´t listen to my cry,
As silent as the stars.

Every beat of my heart,
Waits her to apear,
With her kindness to mark,
And let go all the feark.

And start to dance,
in a luxurious rythm,
Face to face in the sky,
Feets together in the ground.

A blue tidal wave,
Filling with joy our beach,
Breaking down all the sadness,
Finding the sand and shine to bring.



Cio de Ceres




Cio de Ceres



Teu seio em flor se abriu,
Como um botão de rosa,
Teu olho verde reluziu,
Que nem poesia em prosa.

Um relicário lascivo,
Com cheiro cálido de rosas,
Alcova branca que divido
Com intenções prazerosas.

Boca crua de prazeres,
Curva esculpida a mão,
Terra em cio de Ceres,
Brisa que leva uma canção.

Toda a grandeza de um sentimento,
Que se limita pela canção,
Que dizer da poesia,
Que dispersa em letras,
Toda a beleza de um coração.



Espíritos Quebrados





Espíritos Quebrados


O reflexo do mar, é tu,
O reflexo do céu, é tu,
O reflexo de ti, sou eu.

O reflexo da Lua, é tu,
O reflexo do Sol, é tu,
O reflexo de ti, sou eu.

Essa lua que brilha,
Nesse espelho D´Água,
São teus olhos duas ilhas,
E um beijo de namorada.

E o teu cabelo negro,
Dança com a escuridão,
E a flor da tua pele,
Brinca com meu coração.

Dois espíritos quebrados,
Um bater de coração,
Dois lábios apaixonados,
O fim da solidão.


Dois Sóis





Dois Sóis



A brisa do mar,
Enferruja a minha voz,
Apaga a minha chama,
Esvoaça meus lençóis.

A areia se torna quente,
O sangue ferve a dilacerar,
O coração fica demente,
E a saudade a sufocar.

Mas enquanto um sol se põe,
Outro floresce com a aurora,
Vida nova logo se expõe,
Eclipsando em sombras a de outrora.

A onda que me trouxe,
é a mesma que me faz voltar,
Nada transformou-se,
É apenas um ciclo a girar.

Terra Errante





Terra Errante

Teus olhos azuis e abissais,
Corrompidos pelo vício,
Me fazem te querer mais,
Me fazem voltar ao início.

Teus olhos azuis de ressaca,
De um oceano tão atroz,
Com uma ânsia de devorar,
De uma fome tão feroz.

Onda que quebra,
e se parte no cais,
Mar que encerra,
E se enfeita de corais.

Leito de espuma branca,
Que na praia deixa-se deitar,
Terra que se envolve, errante,
E com o mar vai se encontrar.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Sereia do Abismo - 3°





A Sereia do Abismo - 3°



Lara aos poucos foi parando de cantar, foi desistindo gota por gota da vida. De que lhe adiantava a voz tão linda, para falar de coisas tão boas na vida, falar do mar, do céu, da cor dos olhos do ser amado. Era, ao seu ver, no mínimo contraditório. Ela parou de tentar imaginar a paisagem na janela de seu quarto, ela desistiu de tentar adivinhar a cor do céu. Ela desistiu das pequenas coisas que ainda mantinham a chama acesa por dentro. E quando o fogo dentro dela se apagou, a única coisa que lhe restou foi o frio, a dor, e a escuridão. Sempre ela, nunca a esquecia. Se resolveu. Ia terminar aonde tudo começou, num regênese aquático.


Tateou o armário do quarto dos pais, apanhando todos os remédios tarja preta, ou não, do pai alcóolatra, e da mãe ansiosa, paranóica. Foi tateando seu caminho até o elevador. Estava de biquini, linda, de frente pro espelho que costumava se admirar nos seus dias de vida. Como tinha sido boa a sua vida, e quando assim o era, ela nem ao menos se sentia agradecida.


Foi tateando seu caminho até a piscina. Caiu de joelhos na escadaria. Duas vezes. E a passos curtos para sentir o chão axou a piscina. Ia terminar tudo ali e agora. Pulou na piscina com os remédios na mão. Sentiu-se de novo como uma sereia, e sabia que iria sentir saudades disso. Nadava no mais profundo dos oceanos, sem enxergar nada, nem o mais fino feixe de luz, e com uma encomenda em mãos para entregar para o destino. O mais profundo dos oceanos, era a sua alma, e o breu mais titânico, era a sua tristeza.

Submergiu e nadou até o raso. Abriu as caixas. Tirou os comprimidos, e tomou um por um, ajudando com um gole d´água da própria piscina. Sentiu um pouco de nojo, mas pensou consigo mesma: "O que não mata, engorda."

Foram ao todo 57 comprimidos, e muito cloro. Foi para o fundo da piscina, num mergulho de despedida, passar seus últimos momentos comtemplando a escuridão, que, ironicamente, naquele momento, passou a compreender o seu sentido, e passou a gostar dela. E levou esse segredo para o fundo do oceano de sua alma.

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Ela então despertou desse sono abissal, e fugiu de uma luz em direção a outra. Voltou a superfície, agoniada. O preto completo estava se transformando em azul marinho, e aos poucos o azul ia clariando, e ela começou a ver a água. Piscou, e esfregou os olhos. Ela via o reflexo na cerâmica. O Sol forte lhe machucava os olhos.

Por algum mistério da química e do destino, envolvendo o coquetel de remédios e o cloro da piscina, Lara não só sobreviveu como voltou a enxergar. E a dor que ela sentia da luz do Sol batendo nos seus olhos, tortura portuguesa, foi a maior felicidade que ela já sentiu em toda a sua vida.

E ela passou a enxergar mais do que nunca. Fez letras, iniciou uma carreira promissora como cantora tambem, escreveu livros, namorou muito, com alguns homens, foi feliz, com outros foi mulher. E viveu intensamente cada momento da sua vida, pois ela respeitava e entendia tanto a luz quanto a escuridão. Passou a sua vida tentando ajudar as pessoas que possuem essas mesmas trevas, só que na alma,na esperança de tentar fazer com que eles sentissem pelo menos 1/10 da felicidade que sentiu, depois de tanto tempo sem a luz lhe tocar os olhos. Ela ja conseguiu algumas vezes, ainda hoje ela continua tentando.



Fim.









quarta-feira, 14 de abril de 2010

Voto de Silêncio




Voto de Silêncio



Eu me prometi o silêncio,
Em favor da tua ignorância,
Na clausura do meu segredo,
A minha promessa foi feita por amor.

Me abdiquei das tuas carícias,
Aprisionei a esperança de ser feliz,
Sacrifiquei os sonhos mais lindos,
Somente para te ver sorrir.

Vou percorrer os passos de Diadorim.
Te falar a verdade por conta-gotas,
E a minha vingança será o avesso da tua tristeza,
O motivo do meu voto de silêncio.

Vou diluir nas águas do São Francisco,
Os meus desejos secretos e sagrados,
Sacramentar e selar,
Esquecé-los nas areias do tempo.

Enxugar do rosto uma lágrima,
E usar o reflexo desse orvalho,
Para espelhá-lo no brilho do meu sorriso,
E seguir caminhando para o horizonte,
E olhar para trás,
Sentindo saudades do que eu nunca tive.

terça-feira, 13 de abril de 2010

A Sereia do Abismo - 2°




A Sereia do Abismo - 2° Parte



Lara estava deitada na cama. Sentia o Sol da manhã queimar sua pele. Ela sabia que o Sol tinha acabado de nascer, mas só sabia pelo calor que lhe acariciava a pele, pois seus olhos não enxergavam luz alguma. A Sol que a acariciava agora era a água da piscina na semana passada. O médico lhe disse que a água da piscina foi tratada com cloro demais, e o cloro provavelmente estava contaminado, ou vencido. Provavelmente a loja deu um ótimo desconto para o síndico do prédio, que embolsou a diferença. Provavelmente este sabia dos riscos. Provavelmente o zelador simplesmente esqueceu de colocar a placa de "interditada", mas ele tambem pode ter tido apenas preguiça, e ter achado que ninguem em sã consciência iria pular numa piscina numa tarde de segunda-feira, já que sabia que depois de todo final de semana, a piscina ficava imunda com as festas de arromba que uns jovens davam todo final de semana no prédio, e que deixavam para a semana, de herança, uma piscina em estado de imundice. Talvez Lara tivesse esquecido disso, ou somente não tivesse ligado e acharia que algum cloro não iria lhe fazer mal. Talvez. Quem sabe sobre isso ao certo? Você sabe? Eu não sei.

O fato é que não mais o Sol chegava nos seus olhos. O fato é que ela não tinha mais cura, ou pelo menos isso o médico afirmava. O fato é que ela não podia mais acordar e ver suas lindas flores se balançando na janela embaladas pela brisa marinha, ou o seu orvalho que reservava o reflexo cristalino de todo um mundo de beleza naquela gota d´água. O fato é que ela não podia mais ver o mar, não podia ver sua mãe, seu pai, seu irmão, seus amigos, o seu próprio reflexo no espelho, a piscina...

Sua única companhia agora eram os pássaros que vinham ouvir sua voz. Sim, sua voz. A parte de sua alma que não tinha sequer sofrido um arranhão, tivesse quiçá ficado mais bonita ainda ao ter sido impregnada pela violência do destino e pela tristeza de toda uma vida coberta por sonhos tão lindos, e que foi mutilada, sobrando apenas agora uma vida imcompleta, uma vida que lhe reservava mais amargura do que qualquer outra coisa, ou outro sabor.

Ela cantava para afastar a dor, falando exatamente da dor. ela invocava as notas em um mantra de tristeza, que fazia chorar qualquer um que passasse por perto ou ouvisse atentamente seu canto. Os sabiás e bem-te-vis se aproximavam, parando de cantar. Parecia que eles sentiam a tristeza dela, e a entendiam. Pareciam que eles estavam reaprendendo a cantar com ela. Aquele quarto tão bem iluminado, aquelas flores, os passarinhos, o sol maravilhoso que inundava o quarto de beleza e luz. E a única coisa que ela podia ver era a escurdião.

A escuridão que ela via era a sombra dos sonhos que se acabaram, ela não iria mais ser médica, nem poetiza, nem nada. Só lhe restava nesse momento cantar, e se agarrar a sua voz como se fosse a unica coisa que ainda a mantesse viva por dentro, ainda que esse fio fosse tão tênue e fino quanto o fio de seu cabelo, cuja cor seria a única que ela iria enxergar para o resto da sua vida.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Sereia do Abismo





A Sereia Do Abismo


Lara chegou no apartamento cansada, com fome, com sede, com sono, e suada. Veio de ônibus num longo caminho do colégio até em casa. Além de se encontrar nessas condições, seus pais vieram lhe encher de obrigações, determinações, repreensões e até xingamentos. Ela ouviu tudo calada, revoltada. Almoçou o intragável almoço amargo na companhia dos pais, e resolveu sair correndo dali, tomar banho na piscina do prédio, que a muito tempo não usava.

Colocou o biquini, levou uma toalha, e foi sozinha tentar saturar seus males na água com cloro. Como se sentiu bem. Pulou, e se permitiu para ser levada nas profundezas marinhas de sua piscina. A água lhe acariciando a pele, lhe levantando pelos braços até a superfície, e ela com os olhos fechados, só fazia se imaginar ela própria sendo uma sereia a nadar por aquelas águas como se tivesse feito isso a vida toda. e com isso foi lavando suas chagas, suas feridas, e seus remorsos.

Ela era espetacular. Corpo longilíneo, magra, pele clara e cabelos castanhos escuríssimos, quase pretos. E uns olhos... Nossa, que olhos! Tão azuis quanto a própria água da piscina, contrastando essa claridade com a escuridão de seu cabelo. Palavra sombria, escuridão.

Relaxou, e pensou no que ia fazer hoje. Estudar, estudar, estudar. Queria medicina. Era inteligentíssima. Ou será que seus pais queriam tanto que o seu querer se transformou no querer da filha? Seu coração sempre lhe disse para fazer Letras. Era inacreditavelmente sensível. Ou não fazer nada, pois nenhuma faculdade lhe dá a permissão para escrever, e isso ela fazia com maestria. Ela era uma exímia poetisa, e a única coisa que fazia melhor do que escrever era cantar. Na aula de canto seu apelido era Ariel. A voz era sublime, e mais etérea e leve do que o ar. Apaixonava os que ouvissem desavisados seu canto.

Mas então a pressão da vida foi mais forte do que a força de seus sonhos, e ela se lembrou que estava perdendo tempo demais na piscina. Tinha que estudar, seu concorrente estava estudando. O Sol estava brilhando, e o dia estava quente, a piscina tão fria, fresca... Mas ela teve que sair do mundo dos seus sonhos, e abriu os olhos para enxergar de novo o Sol... Mas não havia Sol.

De repente, seu mundo se apagou, e se tornou uma completa escuridão, o breu do fundo do oceano. E ela abria os olhos, mas não fazia diferença, era como se permanecessem fechados, selados. Ela estava cega.

sábado, 10 de abril de 2010

A Rosa da Literatura





A Rosa da Literatura


A mesma água que corre no Chico,
Deságua, safira esmeralda no olho teu,
A vida que segue o curso do Rio,
Te rodeia em um Mandala que é só meu.

A flor que flutua na água,
Sublime, repousa em teu ventre,
Os passarinhos que cantam nas árvores,
Assoviam por ti, ninho ausente.

O fio da navalha dilacera,
Tanto quanto o que eu sinto por ti,
Sofrer que vem de dentro,
Anunciado por Diadorim.

Reflexo multicor manipulado pelo Sol,
Verde mato, azul marinho, dourado ateu,
De uma fé que vem do canto,
Pronunciando o corpo teu.

Barcarola do São Franscisco,
Navegamos nas águas do Sertão,
E nas veredas de nossas vidas,
A Rosa da literatura tem toda razão.