terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Conversas

Um homem chega numa mulher:

- Sim?
- Não.
- Não... Sim, sim?
- Não, não. Não.
- Sim... Sim. Sim: sim. Não? Puff, Sim.
- Não... Sim? Sim?!? Não! Não... Não? Sim?
- Sim...
- Sim... Sim?
- Sim.
- Sim...? Sim, sim. Sim?
- Sim!
- Sim. Sim!

Uma mulher chega numa mulher:

- Não?
- Não.

Um homem chega num homem:

- Sim?
- Sim.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

‎"Feliz é aquele que conhece o perfume do que perdeu"

Ditado Árabe Sufi

E eu descobri que você não tem cheiro.
Pra minha memória, o teu perfume é o perfume do mar.
E eu descobri que nunca vou sentir saudades do mar, porque ele está sempre em mim.
E a flor que não tem cheiro,
Não é flor,
É floração.
Coisa de estação, sem nome nem cor.
É belo somente por não-ser,
E se despetala entre os dedos.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Ying Yang

A atração é como uma música vaga, que se escuta de longe um trecho daquela melodia tão extasiante, mas que não se reconhece a cor, nem a poesia, só se reconhece aquela luz ao longe, que te chama mais pelo mistério do que por outra coisa, a beleza do vapóreo, do etéreo, do desconhecido. Uma melodia nova, desconhecida, tem mais força do que a profundeza de uma canção integralmente por nós conhecida.

Por isso a luz daqueles olhos, aquela luz que a gente nunca compreende, e ao mesmo tempo é tão longínqua que quase desaparece, por isso aquela luz que nos rapta nos seduz tanto. Aquela luz, que pela teimosia de não desaparecer nos cativa e nos condena.

E a vontade de mergulhar na luz daqueles olhos, só por não entende-la, bela e misteriosa. A vontade é tão grande que rasga o peito, e dele também se vê uma luz. Mas ai é de outro tipo, é a luz da força, geradora, luz motora da vida que rasga a morte a solidão, e se espalha com força no ar, e atinge a luz que estava longe, vapórera. E essa luz, por ser vida, calor e e verdade, assusta a outra, que é fantasma, frio e ilusão.

E assim a luz persegue a sombra em trajetos circulares, pois o universo é circular. Uma corre sem fim atrás da outra. Os opostos quase se atraem. É a necessidade do equilíbrio de tudo o que há na Natureza. Mas a vida, para ser vida, precisa que elas nunca se encontrem. E o desencontro das duas luzes é o que gera tudo. É daí que nasce a música. É daí que nasce a dor. É assim que nasce a vida. E a morte.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Palavras de Conveniência

Corvos trocados à noite.
Sinal de morte.
A minha ou a sua?
Asas negras, Palavras negras,
Sinal de sorte.

Palavras engasgadas,
Mas que se contraem no vento frio,
Diante da sabedoria de uma varanda,
E da ousadia de um "boa noite",
Se encolhem perante o que é verdadeiro,
Desengasguei depois de tanto tempo.

Um fantasma a gritar na minha janela,
A sombra de o que um dia foi,
O livro na mão,
O coração não,
Debaixo do pé, pra não fazer barulho.

Tonto.
Gelado nas vísceras,
O que será que tem ainda?
Marcas de tinta,
Nas calçadas de nossas ruas,
Que ao se encontrarem,
Será somente para impor as palavras cruas,
Sem vidas, mornas, e monocórdicas.
Conveniências à parte,
Eu prefiro a morte,
Apesar de não aguentá-la,
Tem quem a suporte.
Você.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Belo

Escrevi teu nome no vento,
Lampejo de dor,
Buraco de peito,
Memória afogada no mar,
Pros braços de Iemanjá,
Eu cantei meu lamento.

Afoguei na onda o teu azul,
Dos teus olhos anis,
Aquelas flores mais sutis,
Que de cada pétala que se abria,
Uma pontada eu sentia,
Quando você me olhava de triz.

E então eu te vi de novo, naquele restaurante. E eu soube então que tua cicatriz em mim ia pra sempre ficar. O buraco não iria ser preenchido por outros sentimentos, não existe Someone Like You, e no fundo todos nós sabemos disso, só tentamos nos enganar até onde dá. Eu te vi no restaurante, e meu peito quase bateu mais forte, mas dessa vez não. Dessa vez meu estômago gelou, e eu aprendi a entender o que minhas vísceras querem me dizer. Elas me disseram pra eu correr, correr o mais rápido possível, me afastar de você enquanto dava. Mas eu não podia. Meu fígado dava uma pontada toda vez que eu te olhava, me puxando para não olhar nos teus olhos novamente.

E eu nem precisei falar com você. Meu pulmão agradece, porque senão teria que trabalhar em dobro. Minha boca se travou, e eu olhei de relance. Só. Mas olhei várias vezes de relance, porque meu coração, egoísta, masoquista e misógino como ele me pedia pra te olhar o máximo que conseguisse.

Não importava o quanto eu estava lindo naquele dia, o quanto eu estivesse me sentindo bem. Você sempre seria mais belo. Sempre. E o mar me chamou, e eu saí correndo. Uma calçada a beira-mar faz estragos, enquanto meu corpo todo me puxava pra longe, meu coração ansiava tapar-se com a tua argamassa de ilusões. E enquanto eu soltava piadas frouxas e ridículas, uma luta tremenda ocorria dentro de mim. No fim, consegui até ser engraçado. O interior de ninguém importa realmente numa festa.

No fim, eu consegui ser engraçado. Bem engraçado. Dizem que quanto mais triste o palhaço melhor ele é. Bem, não é verdade. Eu estava feliz, só por respirar o mesmo ar, por te ter como paisagem. E estava também irremediavelmente mortificado por tudo isso ser não mais do que um fantasma. Um falso amor. E no fim da noite, só me sobram os gritos e o cansaço. Talvez isso seja verdade.

E o pior de tudo, é que você Não Vale A Pena.
Simplesmente não vale.

http://www.youtube.com/watch?v=S1LtIULGGDM