quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O livro na parede me mira,
Me faz anátema-malefício,
Maldição dos meses que vivi,
Ao teu lado sendo feliz-suplico.

Infecta todas as memórias felizes,
Feito chorume em Rio-nascente,
As palavras manifestas, atrizes,
Se balançam aéreas-luzentes.

Dorian canta Ossanha,
Em seu retrato cálido posto,
E no livro Ogum metafísico,
As flores de ametista brotaram,
E morreram secas no armistício.

O ciclo cansa e exaure,
Encontrar afeto em outros cachos é lei,
Voltar depois de queimar os barcos não pode,
Guerreiro leal de mim o Rei,
Não se volta depois do cheiro do carvalho-orvalho aceso,
Quando os souvenirs tem cheiro de Dei.

Me ungi com o óleo das páginas,
A primeira púrpura rasgada dei,
Como títere de planos e vontades,
Saber cortas cordas quando precisei.

A dor pertence ao mundo,
Da virgem amar o escorpião,
Enquanto este ama violar o que é casto,
Posto que o que é Libra só dura este momento,
E a desbalança se põe em ação,
Depois é opressão do corpo e só,
Corpo-são mente então.

Vou deixar o livro lá, me olhando,
Será a lembrança da crueldade material,
Como troféu de cabeças na sala,
O escorpião vencido e carbonizado,
Veneno expiado de quem atravessou o rio-monge à nado,
Enquanto penetrava-se pelo aquiescer,
De quem precisava se sentir vivo-alado,
E toma doses de veneno todo amanhecer.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Fogueira de Campina

Teu cheiro ficou em mim,
Na camisa de botão,
Na noite de São João.
Nosso amor foi a fogueira do Sertão,
Brasa e cinza.

Teu beijo ainda queima em mim,
Na colcha de algodão,
Na noite da Solidão.
Nosso amor já era a fogueira da Ilusão.
Fumaça e luz.

Teu gosto ainda amarga em mim,
Nas sombras do São João,
No adeus no teu portão,
O nosso amor era a fogueira de Campina
De plástico.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Le Pierrot en blanc et noir Veux la vie comme un ancien film, Il parle, mais pas de mots sortir, parce que sa vie est muet et triste Et ta bouche, ta sourire est brute, La bouche se sa scellée Mais les lacrimas son tout Les coulers du Monet.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Texto trazido do Timeline do Face.

Essa é a última vez que vou me pronunciar sobre o 2° Turno. Todo mundo já sabe o que tem que saber, é um saco ficar repetindo a mesma coisa o tempo inteiro. Claro, vou compartilhar algumas coisinhas, afinal o que seria da minha timeline né? kkkkkkkk.

Mas enfim, eu cheguei a uma triste conclusão sobre as escolhas dos candidatos - quanto ao nível intelectual dos eleitores. Há pessoas inteligentíssimas e burras-como-uma-porta dos dois lados. Conheço verdadeiros gênios petistas, e verdadeiras mulas psdbistas, e o inverso também. A crítica vai para os dois lados, mas sim, principalmente dirigida aos petistas.

> Constatei uma coisa que me preocupa: quase ninguém entende absolutamente nada de economia. E quando acha que entende é pior, pois se fecha para novas informações. Absolutamente NENHUM petista sabe ou se interessa por economia. Conheci uma pessoa até hoje com o cabedal de conhecimento impressionante que vota em Dilma, mas mesmo assim não sabia explicar porque apoiava a macroeconomia politica do PT, pois era indefensável até para ela. Era pura teimosia ideológica, pelo menos nessa questão.

Alguém que vai votar em Dilma quase sempre ignora completamente os dados econômicos na história recente, ou falha completamente quando tenta explicar a macro-política econômica do governo que apoia. Dispara apenas "PT luta pelos pobres, PSDB pras elites!". Repete um discurso velho, velho, cansado, dizendo que o PSDB é neoliberal (hahaha). Cansado demais de ouvir isso. Seria um prazer ouvir um petista me falar com graça sobre economia. Até hoje só encontrei diplomatas vendidos como Celso Amorim, keynesiano raso, político-raposa.

Isso aqui não é uma ofensa dirigida aos petistas. É infelizmente o que pude constatar nesse tempo. A maior parte tem muito interesse em fazer o certo, em combater a pobreza, lutar pela igualdade. Mas falam abertamente que não se interessam por economia. Ora, essa posição é como uma competição de esgrima onde não se quer pegar na espada. Desde quando política conhecimento econômico andam separados?

É uma tristeza conhecer tanta gente absolutamente brilhante, mestres em tantas áreas, mas que não fazem um mínimo de esforço para tentar entender o contexto político em que vivem, na sua raiz mais pragmática - o dinheiro. Entendem TUDO de história, política, golpes, ideologia, força, relações de trabalho, opressão e guerras, mas ignoram a malha econômica que sempre esteve por trás de tudo, achando que sua definição retirada dos livros de ensino médio sobre imperialismo romano-inglês-americano são o suficientes. Ou que a Carta Capital ou Sakamoto, ou a Veja e Rodrigo Constantino são o suficientes.

Toda e qualquer política precisa ser financiada. O funcionamento do país é abastecido, alimentado pelo dinheiro. O que eu constatei foi que até nos mais altos graus da academia, até os professores que eu mais admiro, falham ao analisar e expressar ideias simples como o tripé econômico. Quantas pessoas sabem explicar o que é, qual a importância?

A realidade é que a grande massa ignora esses fatores CRUCIAIS, e não só a grande massa, mas a elite intelectual, inclusive as pessoas mais inteligentes que conheço têm preguiça pura de entender o que move a nação, e de entender que isso é chave fundamental do processo democrático. Não há política social que se sustente por muito tempo sem um aparato financeiro que o alimente. Negar esse fato é infantilidade, ignorância, desonestidade intelectual, demagogia, visível imoralidade, ou qualquer coisa que o valha. Não que eu seja um economista, muitoooo longe disso, sou estudante de Direito, sou medíocre até no meu curso, quanto mais no dos outros.

Sou apenas curioso. Mas essa é a única diferença - a inquietação. Nunca a inteligência. Quando alguém vem e repete uma coisa que leu ou na Carta Capital ou na Veja, essa pessoa realmente entende o que aquilo diz? 95% acha que sabe o que é inflação, quando eu só conheci 3 pessoas até hoje que sabiam me explicar com propriedade. Uma lástima. Todos confundem carestia com inflação. Esse é só um exemplo de inúmeros dados, institutos, comparações e análises históricas falaciosas, imprecisas, baseadas na opinião-geral infundada. Quantas fontes opostas ideologicamente para comparar panoramas aquela pessoa procurou? Quantos livros leu ou quantas palestras de economistas (americanos, europeus, principalmente) assistiu?

O maior problema do país, pra mim, continua sendo a ignorância. Mas não aquela ignorância que salta aos olhos, do analfabetismo. Aquela que anda junto da pobreza ou do fanatismo. Mas sim aquela velada, aquela que é motivada não pela impossibilidade material de se estudar, ou pela falta de habilidade intelectual, ou mesmo pela base defeituosa, mas pela pura PREGUIÇA.

Esclarecendo, não estou defendendo aqui que o PSDB tem um plano econômico EXCELENTE. Mentira, é uma coisa básica, mas que funciona em todo país do mundo. Quando o PT parou de aplicá-la no final do segundo mandato de Lula o país começou a frear o crescimento. Ou seja, diminuir o ritmo na luta contra a pobreza, em outras palavras.

Vejam, isso não é uma defesa aos ideais liberais. Não aqui, não agora. Até para os programas sociais de distribuição de renda é necessário o crescimento econômico. Não é preciso ser capitalista para entender de economia (mas parece que o inverso se faz inevitável pela práxis), nem socialista para querer enfrentar a pobreza ou as relações de exploração. É questão de conhecimento e pragmatismo, seja pela visão de qualquer corrente.

É necessário sim o fim dessa linguagem hermética, posto que os resultados nos afetam grande e diretamente. A popularização desses estudos é essencial ao desenvolvimento do ideário e da nação. É importante conhecer inúmeras vertentes político-ideológicas antes de se adotar uma ideia. Conhecer o outro lado do espelho nos permite o auto-conhecimento.

Precisamos URGENTEMENTE de uma educação financeira concreta nesse país, nas escolas, nas universidades. É inadmissível viver num sistema democrático sem exercer com firmeza e sabedoria o republicanismo. Mastigar dados de forma ruminante, sem conseguir processá-los direito, e se juntar ao turbilhão titânico do fluxo acéfalo de informações falsas, mal pensadas, irrefletidas, e demagogas nas redes sociais é uma caminhada lenta e certa para o abismo.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Herança

Cinzas, formol e mortalha. Deixo a vocês, ilustres desconhecidos, a única coisa que verdadeiramente possuía. Deixo minhas veias, por onde antes o sangue fluiu, quente, me aquecendo contra as noites frias, e que corria mais rápido quando eu via o meu amor. Deixo o meu pulso parado, as artérias coaguladas e o sangue seco. Deixo minha pele, meu couro curtido pelo tempo e pelo sol. Os meus ossos, que sustentaram minhas carreiras na infância. Deixo meus olhos, agora apagados, mas que um dia brilharam de medo, êxtase e dor. Deixo minha massa cinzenta, ex-maestra de um caminho estranho. Os meus músculos, que por sua vez potenciaram movimento; movimento é vida. Minhas vísceras, apesar de não saber o que vocês farão com elas. Meu pulmão, tão pouco usado, posto que podia ter fumado muito mais. Adorava fumar. Minhas mãos, e tudo que as envolve, as quais seguraram tanta coisa, até mesmo outras mãos. Minha garganta, avenida por onde tantos sambas passaram.

Vocês, desconhecidos, de certa forma podem ser considerados parasitas. Mas sem ressentimentos. Vocês usarão o que tive de melhor, e lhes deixo de - herança. Nobreza da intelectualidade, guardiões da biologia, sacerdotes da cura institucionalizada. Artesões da vida, alquimistas, que transformam o que não poderia ser em vida. Por isso, minha devoção e agrado.

Usem-me bem. Quando me olharem de novo, deitado sobre o metal frio, lembrem-se que ali eu vivi, e meu corpo conta a história, como hieróglifos inscritos em organelas. Cantei, dancei, amei, sofri, e sou o retrato do vosso futuro irremediável. Portanto, tracem o caminho do bisturi e dos dentes com a maior precisão e solenidade, pois até os vermes e os estudantes me devem gratidão.