segunda-feira, 31 de outubro de 2011

"Vá, mas nao se engane, a vontade de se enlaçar nos sonhos nao destrói a tentativa de se perder nas amarras do lençol com ela, ó, querida Laura."

Luan Andrade Batista.

Sophitia


A mão que amassa a areia,
Transforma o deserto numa flor,
E traz as águas na luz dos olhos,
O calor dentro do peito,
A vida inteira diante do corpo.
Traz o amor em si,
Dentro,
Num sorriso.

E o sol vem só pra brincar com teu cabelo,
Fazendo ele mexer pela aurora,
Púrpura, castanho, dourado.
Reflexo multi-cor.

A vida explode em profusões anis,
Fazendo do cinza, verde,
Transformando abismos em vales verdejantes,
Olhos de quem vê a vida.

Vida que brota só por ter sido assim olhada.
Espelho embevecido de Ceres,
Reflexo exponencial.
Degradé Furta-cor de Gineceus Andróginos.

E o canto se espalha do mar aos céus.
Até o vento da montanha canta,
E os montes e as colinas estão vivas,
E a terra desabrocha em vida, flor e luz.

E o decálogo se quebra no meio!
Junto com todos os outros fragmentos de rocha podre!
Fazendo brotar do sal
Sementes de Lotus ocidentais.
Marinas e Marianas que se partem,
Aflitas,
Por mares de pétalas,
Salgadas.

A vida desponta da mão,
Como num facho de brilho,
Como num encontro de lábios,
Onde a pele é fio, vertigem,
E a língua é roca, queda.

Nem é Deus,
Nem seu plural,
É mais,
É a luz que clareia a alma,
É Sophitia,
Que anda, por andar.

Algum dia,
De algum jeito,
Em algum lugar.

domingo, 30 de outubro de 2011

Erudição?

Destarte, como coroamento desta peça-ovo, emerge a premente necessidade de jurisdição fulminante, aqui suplicada a Vossa Excelência. Como visto nas razões suso expostas com pueril singeleza, ao alvedrio da lei e com a repulsa do Direito, o energúmeno passou a solitariamente cavalgar a lei, esse animal que desconhece, cometendo toda sorte de maldades contra a propriedade deste que vem às barras do tribunal. Conspurcou a boa água e lançou ao léu os referidos mamíferos. Os cânones civis pavimentam a pretensão sumária, estribada no Livro das Coisas, na Magna Carta, na boa doutrina e nos melhores arestos deste sodalício. Urge sejam vivificados os direitos fundamentais do Ordenamento Jurídico, espeque do petitório que aqui se encerra. O apossamento solerte e belicoso deve ser sepultado ab initio e inaudita altera parte, como corolário da mais lidima Justiça.

Equivale


"Deus colocou a música e a harmonia dentro de cada um de nós. O papel da verdadeira música é o de despertar essa música interior que está adormecida. E tão pesadamente adormecida, que, certas vezes, temos a impressão de que já morreu. Deus colocou a noção de ritmo no interior dos seres humanos, dos animais, das plantas e até mesmo das pedras. Um homem que anda, um pássaro que voa, uma folha que cai são prenúncios de dança. No coração do átomo e no balé dos astros, o ritmo e a harmonia foram plantados pelo nosso Criador... Escutar música e apreciar a dança equivale a uma verdadeira prece.

Dom Helder Câmara.





Ps: Depois eu sou o ateu.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Artesão dos Inversos


Artesão dos Inversos

Bate o martelo, Ferreiro,
Erupções aéreas em estalos,
Efêmeras, como a vida,
Outra faísca que deu errado.

Os contornos da tiara tomam forma,
O ouro ganha seus ares de realeza,
E o diamante, branco, entorna
A esquife de mil vidas negras.

A peça de infinita beleza,
Orna os cabelos celestes,
De quem já encarna a tristeza,
De se carregar o que é inerte.

A beleza ama a guerra,
E sua alcova é violenta,
Corrompe a inocência de um coxo,
Por ser tão belicosa oferenda.

Hefesto flagra a cena,
E condena os casais,
Acorrentando como pena,
O leito e a morte que ela traz.

Afrodite encara Ares,
Sentenciada a adorar a morte de frente,
Beijo por beijo, travando os mares,
Rosa por rosa, rangendo os dentes.

Enquanto o Ferreiro se engasga,
Com a flecha preta do ciúme,
Travam no meio da garganta,
Os gritos roucos no curtume.

E o artesão maneja o primordial,
Esmera nas sua criação,
Tirando do ventre da terra,
Um próximo de perfeição.

Mas é coxo e feio.
Poeta dos sonhos mortos,
Dos aços que se partem no seio,
Das belezas frias e inanimadas,
Das reluzes apagadas,
E das obras que param no meio.

De suas mãos tortas se faz o belo,
O ouro a tinir, vitral,
E a luz da pedra que some,
Um espelho convexo inverso,
Da beleza que o consome.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pensamentos & Mais - IV

"Para aqueles que tem fome, Deus só se atreve a aparecer em forma de alimento."
Gandhi

"Para aqueles que tem TUDO e um pouco mais, Deus só se atreve a aparecer na forma do nada."
Plágio mal-feito meu

Que uma Galatéia me apareça desenhada pelas linhas dos meus traços.

Será a sina de Hefesto construir as maiores belezas através de seus maiores horrores?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Aquífero


Aquífero

Cada um é um poço d´água. Uns enormes, cheios de conteúdo, belíssimos, refletindo a luz do sol em vários espectros diferentes.
O Aquífero em baixo de nós é de todos, mas tentamos unir nossas águas por cima, na superfície, o onde reinam as futilidades e a evaporação é implacável, desertos tomam de conta, a irrigação nos consome e nos esgota, hemorragia, e nossas águas correm devagar, tímidas.

Claro, há rios. Alguns tem sucesso ao encontrar outros lagos e cachoeiras para desaguar, belos e poderosos. Mas há também as barragens e as represas. Nem sempre as águas se encontram. Em outros momentos, os Rios caudalosos vão parar no mar, rasgados pelos mangues, na sua própria foz, e por fim sepultados no sal.

Temos que olhar pra dentro de nós e nos achar nas profundezas. Pelo escuro, nos esgueirando entre rochas e microrrochas. Filtrados pela vida, porosa e mineral. A vida é um caminho de pedras. Afinal, é isso que a vida faz: filtra nossas impurezas. Pingando, caindo e escorrendo, deslizando gota a gota até cair nos rios subterrâneos que nos levarão até o Aquífero.

Mineralizados, filtrados, puros e unificados. Serenos Encontraremos nossa paz em comum dentro de nós mesmo, iguais. Pois a água em todo canto é água.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Porco-espinho



Era uma vez um porco-espinho que vivia muito triste na floresta, pois ele não tinha ninguém para abraçá-lo nas noites frias de inverno. E ele tremia de frio, o pobre porco-espinho. Uma vez, se apaixonou por uma lebre, que tinha um pelo macio, era fofa, generosa e muito divertida, e como o Porco-espinho era muito charmoso e conquistador, conseguiu convencer a Lebre a não ficarem com frio de noite e eles foram se deitar dentro da caverna juntos. Mas que azar da pobre Lebre, saiu toda furada, a coitadinha. Sangrando e magoada, saiu na noite maldizendo o pobre e infeliz Porco-Espinho, que não estava fazendo nada a não ser sendo porco-espinho.

Outra vez o Porco-Espinho se apaixonou por uma Raposa. Sua inteligência, seu pelo brilhante e sua astúcia o fascinavam. Sendo gentil e inteligente como sempre, o Porco-espinho cativou a raposa, e logo a chamou para a caverna, a fim de não passarem frio, já que dormiriam juntos.

Coitada da Raposa. Se furou e se cortou todinha, a pobrezinha. Saiu correndo, jogando palavras de ódio e nunca mais olhando de novo na cara do Porco-espinho que estava muito, mas muito triste.

A Coruja aconselhou o Porco-espinho a encontrar alguém pra dividir a caverna que ele não conseguisse ferir. Lhe apresentou então a Tartaruga, que era muito velha e enrugada, mas graças à sua carapaça nem sentia os espinhos do Porco-espinho. O Porco-espinho, relutante, aceitou. A tartaruga se deitou junto dele, e como tinha sangue-frio, roubou todo o seu calor, e o Porco-espinho, enojado com a aparência da tartaruga, e com ainda mais frio do que antes, não pode mais aguentar.

A Coruja apresentou então o Tatu, que da mesma forma não agradava o Porco-espinho, pois além de feio e sujo, era egoísta, e passou a noite enrolado dentro da sua bola, e no final das contas, deixou o Porco-espinho sozinho e com frio do mesmo jeito.

A Coruja então disse:
- Você precisa encontrar alguém que procure a mesma coisa que você.
- Mas onde eu vou encontrar?
- Você encontrará quem procura quando este alguém também estiver te procurando.
- E como não sofrer mais com os espinhos?
- Você não pode arrancá-los, pode?
- Não, de jeito nenhum, se não eu ficaria indefeso e morreria facilmente.
- Então, os espinhos são parte de você tanto quanto o sofrimento. Se conforme, meu amigo.

O Porco-espinho então saiu muito, mas muito muito muito triste, quase sem esperanças, e com medo de seus próprios espinhos. Começou então a ter raiva de si mesmo, quis arrancar todos os espinhos se esfregando numa pedra, mas eles ao serem empurrados contra sua pele lhe infligiram uma dor terrível. O Porco-espinho desistiu. Desistiu de desistir.

Foi então caminhando até o lago desesperançoso até de desesperanças. O lago era belíssimo, azul, refletia o céu perfeitamente. O sol agradável queimava suave a pele. As noites eram frias, mas os dias eram quentes. Flores começavam a brotar, gélidas, anunciando que o Inverno estava já terminando.

Foi então que quando estava bebendo água se aproximou dele uma Porca-espinha. Foi amor à primeira vista. Os dois tinham muito em comum, procuravam a mesma coisa, tinha o mesmo problema, as mesmas necessidades, e, acima de tudo, as mesmas soluções. Mas tinham também o mesmo medo. O medo agora era duplicado. Os espinhos eram sinérgicos, se multiplicavam e se trincavam. Mas o frio era muito grande. Um frio muito maior do que os invernos. Um frio vazio e deserto chamado Solidão. Os espinhos eram terríveis, mas nem se comparavam a Solidão, que os enlouquecia.

Decidiram então se deitar na mesma caverna, juntos, morrendo de medo. Sentiram dor. O sangue escorreu. Mas o sangue estava quente, e eles chorando de dor e de alegria aguentaram o peso do espinho do outro, e sobreviveram ao inverno mais longo de suas vidas juntos.

A primavera veio, os espinhos diminuíram. Eles aprenderam a confiar um no outro, e as noites já não eram tão frias. A cama de flores agora suavizava os espinhos, e os Porco-espinhos foram muito mais felizes que outros animais, pois valorizavam mais do que nunca o calor que anunciava a Primavera. O calor que vinha de dentro. E se amaram profundamente, e viveram felizes para sempre.

Fim.

domingo, 9 de outubro de 2011

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Escrever é cantar pelo silêncio.

sábado, 8 de outubro de 2011

Rosa Oriental



Rosa Oriental

Fagulha que incandeia o Sol,
Espalha o atrito das noites frias,
Onde o sangue se pinta na neve,
Ou em anagramas, retilínios.

Aço que enferruja as almas,
Sem fio, cega os horizontes.
Algoz da desesperança,
Corrompido pela vida:
Reflexo de uma luz sombria.

Mas nas montanhas as espadas descansam,
Bainhas que se doam, meretrizes,
Amantes das vertigens,
Abraço de pétala,
Sândalo.

Risca no ar uma ideia,
Som de se cortar o ar,
Sonhar com o mar,
Armadura sincera.
Será?
Que o que corta constrói coisas belas?

Me encandeie lá em Candeias.
Me corte só pelo perfume.
Me roube os sentidos.
Me faça sinfonia.
Tinindo, inefável pelos campos,
Aberto,
Como uma Cerejeira que se poda nos invernos.

Como quem conhece a Primavera e suas flores,
Como quem sabe os segredos de suas Sombras,
Como quem faz sexo pela fotossíntese,
Como quem ama em cada tom,
Como quem ama o rio,
E se enraiza nas suas margens,
Sem poder tocá-lo.

E a chuva são os sonhos,
Respingos de outras vidas,
Fatalidade que sobra, nua.
Em Flor:
Rosa Oriental.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Subnicks silenciosos

Até parece que os subnicks espalhafatosos da tarde mostram o verdadeiro amor! Quantas e quantas vezes eles não escondem relacionamentos engessados e podres por dentro, com um sorriso bonito e maquiado, máscara, para os outros, sem coragem de terminar e dar a sua merecida eutanásia?

Amor verdadeiro são os subnicks da madrugada, que nem se concretizam, às vezes nem chegam a existir, são aqueles gritos calados, sufocados, acorrentados pelas conveniências ou pelo destino. Quantos e quantos silêncios não guardaram a história de oceanos infindáveis do mais puro, sufocante e sublime amor?

Eu só queria poder ouvir todos rebentarem de vez só numa madrugada qualquer.
Coral mais lindo.