terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Porco-espinho



Era uma vez um porco-espinho que vivia muito triste na floresta, pois ele não tinha ninguém para abraçá-lo nas noites frias de inverno. E ele tremia de frio, o pobre porco-espinho. Uma vez, se apaixonou por uma lebre, que tinha um pelo macio, era fofa, generosa e muito divertida, e como o Porco-espinho era muito charmoso e conquistador, conseguiu convencer a Lebre a não ficarem com frio de noite e eles foram se deitar dentro da caverna juntos. Mas que azar da pobre Lebre, saiu toda furada, a coitadinha. Sangrando e magoada, saiu na noite maldizendo o pobre e infeliz Porco-Espinho, que não estava fazendo nada a não ser sendo porco-espinho.

Outra vez o Porco-Espinho se apaixonou por uma Raposa. Sua inteligência, seu pelo brilhante e sua astúcia o fascinavam. Sendo gentil e inteligente como sempre, o Porco-espinho cativou a raposa, e logo a chamou para a caverna, a fim de não passarem frio, já que dormiriam juntos.

Coitada da Raposa. Se furou e se cortou todinha, a pobrezinha. Saiu correndo, jogando palavras de ódio e nunca mais olhando de novo na cara do Porco-espinho que estava muito, mas muito triste.

A Coruja aconselhou o Porco-espinho a encontrar alguém pra dividir a caverna que ele não conseguisse ferir. Lhe apresentou então a Tartaruga, que era muito velha e enrugada, mas graças à sua carapaça nem sentia os espinhos do Porco-espinho. O Porco-espinho, relutante, aceitou. A tartaruga se deitou junto dele, e como tinha sangue-frio, roubou todo o seu calor, e o Porco-espinho, enojado com a aparência da tartaruga, e com ainda mais frio do que antes, não pode mais aguentar.

A Coruja apresentou então o Tatu, que da mesma forma não agradava o Porco-espinho, pois além de feio e sujo, era egoísta, e passou a noite enrolado dentro da sua bola, e no final das contas, deixou o Porco-espinho sozinho e com frio do mesmo jeito.

A Coruja então disse:
- Você precisa encontrar alguém que procure a mesma coisa que você.
- Mas onde eu vou encontrar?
- Você encontrará quem procura quando este alguém também estiver te procurando.
- E como não sofrer mais com os espinhos?
- Você não pode arrancá-los, pode?
- Não, de jeito nenhum, se não eu ficaria indefeso e morreria facilmente.
- Então, os espinhos são parte de você tanto quanto o sofrimento. Se conforme, meu amigo.

O Porco-espinho então saiu muito, mas muito muito muito triste, quase sem esperanças, e com medo de seus próprios espinhos. Começou então a ter raiva de si mesmo, quis arrancar todos os espinhos se esfregando numa pedra, mas eles ao serem empurrados contra sua pele lhe infligiram uma dor terrível. O Porco-espinho desistiu. Desistiu de desistir.

Foi então caminhando até o lago desesperançoso até de desesperanças. O lago era belíssimo, azul, refletia o céu perfeitamente. O sol agradável queimava suave a pele. As noites eram frias, mas os dias eram quentes. Flores começavam a brotar, gélidas, anunciando que o Inverno estava já terminando.

Foi então que quando estava bebendo água se aproximou dele uma Porca-espinha. Foi amor à primeira vista. Os dois tinham muito em comum, procuravam a mesma coisa, tinha o mesmo problema, as mesmas necessidades, e, acima de tudo, as mesmas soluções. Mas tinham também o mesmo medo. O medo agora era duplicado. Os espinhos eram sinérgicos, se multiplicavam e se trincavam. Mas o frio era muito grande. Um frio muito maior do que os invernos. Um frio vazio e deserto chamado Solidão. Os espinhos eram terríveis, mas nem se comparavam a Solidão, que os enlouquecia.

Decidiram então se deitar na mesma caverna, juntos, morrendo de medo. Sentiram dor. O sangue escorreu. Mas o sangue estava quente, e eles chorando de dor e de alegria aguentaram o peso do espinho do outro, e sobreviveram ao inverno mais longo de suas vidas juntos.

A primavera veio, os espinhos diminuíram. Eles aprenderam a confiar um no outro, e as noites já não eram tão frias. A cama de flores agora suavizava os espinhos, e os Porco-espinhos foram muito mais felizes que outros animais, pois valorizavam mais do que nunca o calor que anunciava a Primavera. O calor que vinha de dentro. E se amaram profundamente, e viveram felizes para sempre.

Fim.

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