quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Ode a Kakaroto

Van Gogh, "Two Crabs", January 1889. Oil on canvas, 47 x 61 cm. Private collection, on loan to the National Gallery, London." via Van Gogh: The Life


Somos lágrimas de Estrelas.
Somos fruto de suas oscilações e incoerências,
Daquela vontade súbita que A Menina triste tem de desabar e chorar o mundo,
Pois ela, assim como as estrelas,
Não tem muros nem Fronteiras.

Por não ter fronteiras
Se permite misturar suas luzes com as do Universo,
Não bloqueia sombras, nem dores, nem frios,
A agonia a consome,
Pois sente a dor até da flor que morre na calçada,
Ou o Caramujo que morre no Apartamento,
E enquanto viver colecionará as farpas da vida - onde tudo dói - das Pedras aos Casulos.

A Menina-Estrela chora o Mundo,
Pois Ele já não tem lágrimas nem Sacerdotizas que o façam.

O mundo secou pelo pranto,
E a Menina gerou lumes de seu choro,
E foi mais ou menos assim que o Universo foi parido,
Da dor de alguém sem fronteiras
Que lacrimejou a matéria.

Desenhos visigóticos e primaveris são
Utilizados para preparar seus uguentos,
Pois as feridas são abertas como que por Inocência, e cutucadas pelo Tempo-Criança num balanço periódico.

We're so Fragile,
Me disse uma vez um escorpião - ainda que impetuoso e encouraçado.
Uns apontam-na logo: Fraqueza
Onde eu enxergo a Força de se carregar o mundo pelas Pálpebras.

E eu só lhe diria - Menina, arranque os cílios. O que você deve ao mundo?

Deus, abençoe minha Vó, pois ela não sabe o que faz.
Só tu, Sumidíssimo Pai, sabe quantos Universos se Efêmeram em cada Lágrima da minha Menina-Estrela.

Uns dizem que é Crônico.
Eu digo que é o próprio Tempo.
Quantos mundos, dores e lágrimas cabem num pranto?

O coração se aperta entre soluços de um choro que não é seu,
Se amontoam tristezas que não lhe pertencem.
Escravidão por não ter muros em seu EgoCastelo.

Menina, mande o Universo pastar matéria escura,
Me chame até vocalizar teus muros,
E convide teus amigos para jantar.

O Universo pode arranjar a sua dose de incoerência nas estrelas,
E arranjar olhos para chorar,
Pois ele sabe que algo está muito errado.
Nós também sabemos.
Mas somos efêmeros demais para nos importar.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Genghis Khan

Genghis Khan


Tenho saudades de quando eu era Deus.
Quando dormia aninhado sob suas barbas,
Longas, semíticas, latinas, ibéricas,
Entrelaçadas em fibra quase inquebrável,
Ponta e fio se confundindo entre Continentes,
Dá quase pra ver os povos e os vestígios de movimento.
Ali eu não conhecia os pecados do mundo,
E principalmente não conhecia os D´Ele.

Hoje durmo sem tenda,
Ao vento - Sereno.
A yurt branca de couro curtido
Não é mais esperança, vela, nem passagem.
É minha Muralha.

Durmo agora sobre o céu infinito,
Cavalgo com imperadores mongóis paralelo às estrelas,
E com o vento impiedoso me soprando
Ao me cantar solidão

                    - Faço com ele um dueto. O vento não sabe o que é solidão. Vem, Vento, que eu te ensino.

Achei que meus anos escorreriam,
Ampulheta inevitável de areia tão fina,
Deveria então aproveitá-los com eficiência hedonista máxima, claro,
Única forma válida de sobreviver.

Hoje, aprendi com uma Velha ao discordar dela
Que meu Capital vital se valoriza quando especulo-o pela paciência.
Quando sou Velho na rede na praia feito Caymmi.
Não se pode ser Príncipe Bórgia Ávido Tódo Témpo.

Tendo cavalos de menos e estepes demais,
As cavalgadas mortais devem portanto verter orgias e armistícios.
Pois os tempos bélicos ficaram no passado,
De mãos dadas com a e a ignorância.

Eu, sendo Jovem & Velho,
Só tenho tempo para os ventos calmos e as ondas serenas,
Para os deleites mais demorados - feito aquele beijo
Que parece que flerta com a eternidade...

O Grande Céu Azul é infinito.
E posso senti-lo me envolver, me abraçar, difuso,
Passando por mim e me consubstanciando.

                    - É desperdício ser pedra árida, insólita.

Quero ser brisa, calor e chuva,
Quero me transformar num dia bom.
Não tenho paciência para o manto dourado, alvo ou carmesim.
Não almejo Perfeição nem Flor Imperial,
Sou flor banal, daquelas que brota na pedra mesmo,
Mas teimosa por enradicalizar a liberdade.

E que tenho na cor um cheiro,
Na acústica um sabor,
Nas veredas um destino:
Deixar de ser Pedra e me fazer Rio.

Ser Cavalo é honraria e mérito,
Quem quiser que cavalgue em quem quiser,
Pois até Genghis Khan era Cavalo,
(E ninguém tinha nada a ver com isso.)

Eu sou aquele que joga armadura lustrada no chão,
Pois o Aço pertence à terra,
E eu já não convido lâminas nem flechas.
Meu peito foi feito pra levar vento,
Barco que ponteia meridianos,
Entropia Antropocêntrica de caminhos inconscientes.

                    - Tudo é Inércia

Já eu sou Apoteose Holística entoada,
Que reverbera pelas estepes.
Eu sou Horda de Luz-Aríete,
Destruindo todas as Sombras-Muralhas.
Eu sou a Liberdade à Cavalo,
Eu, Embaixo do céu - Sou.