quarta-feira, 24 de abril de 2013

 

O Rosário


Eu tentava merecer ser amado,
Que tanto espero, e canto,
Me tornando justo, e digno,
Acreditava na metajustiça em todo canto,
Por ser feliz, por sofrer, para esperar,
Eu canto.

A virtude pelo sublime amor,
Eu negociava com a metafísica.

Até que joguei ao Tibre,
O rosário de contas pesado e maternal,
E todos os seus ecos enfim,
E entendi que Deus não me odeia tanto,
E minha solidão não lhe interessa,
Pois Ele esta muito ocupado,
Limitando o plano de sua existência
Na esquizofrenia coletiva concreta.

Um raio que não sabiam explicar,
Então só poderia ser divino,
Veritas est in vinu.

E quando eu me permiti enfim ser cruel,
Expressar os reais desdobramentos da minha natureza,
Foi quando eu mais fui amado.
Pois os inocentes anseiam a dor, surpresa
E eu sempre namorei a inocência,
Pois a corrupção se deita com a virtude,
E as trevas violam a luz, negra
E a verdade repousa nas sombras,
Enquanto a luz cega, como a fé, morta,
E a escuridão liberta, e desembaraça os sentidos.

Flores umbrófilas que se agarram,
Ao véu negro e íntimo que me abraça,
Não se ama em profundidade em plena luz do dia, aos gritos,
Ama-se no breu, no silêncio absoluto,
Na dúvida e no sangue,
E não na dor e na penitência,
Ama-se por temer,
Mas ainda assim abraçar o desconhecido,
Na luxúria do medo do fim,
Cama de mistérios insolúveis.