segunda-feira, 29 de novembro de 2010

http://www.youtube.com/watch?v=BDcFa16ZisY
"Eu vou lhe contar que você não me conhece.

Eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve.
A sedução me escraviza a você, ao fim de tudo você permanece comigo, mas preso ao que eu criei e não a mim. E quanto mais falo sobre a verdade inteira um abismo maior nos separa.
Você não tem um nome, eu tenho.
Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das atenções.
Mas a mentira da aparência que eu sou e a mentira da aparência que você é, porque eu não sou meu nome e você não é ninguém. O jogo perigoso que eu pratico aqui, ele busca chegar ao limite possível de aproximação através da aceitação da distância e do reconhecimento dela.

Entre eu e você existe a notícia, que nos separa.
Eu quero que você me veja a mim.
Eu me dispo da notícia. E a minha nudez parada te denuncia e te espelha.
Eu me delato, tu me relatas.
Eu nos acuso e confesso por nós. Assim me livro das palavras com as quais você me veste."

[recitado por Maria Bethânia]

Calafrio



Calafrio


Que força que você tem no olhar é esta?
Estarrece meu ser, tira meu ar,
Trinca meus ossos, range meus dentes,
Gela meu âmago, ferve a minha carne.
Um calafrio que percorre a minha espinha.

Não sei se é a tua força,
Ou a minha fragilidade que o permite,
Me mata aos poucos, de um jeito bom.

A minha fraqueza é a força do teu ser,
A capacidade que me sobra, com gosto de mágoa,
Que me sobra em não te deixar perceber.

Mas eu falhei, e até nisso teu poder me incapacita,
Que domínio absoluto é esse?
Que o teu vazio tem sobre o meu denso?
A tua Sombra que encobre o meu Sol.
Teu nada que subjuga o meu tudo.

Mas eu sou reconhecido pelo meu nome,
E você não é ninguém.
Eu sou a luz que ilumina as trevas,
Você é mais um rosto,
Bonito e ignorante a andar na multidão.

Eu sou eu, e isso me basta.
Você a sombra que só É porque eu Sou,
Necessita da minha luz para poder Ser.
Eu sou Pedro Antônio,
e você, quem é?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Os Assums Do Mediterrâneo


Os Assums Do Mediterrâneo

Cansei desta guerra inútil,
Helena não vale tanto assim,
Pátroclo está morto,
E Heitor, de olhos verdes, o matou.

Os ventos do Oriente pararam de soprar,
Não há mais razão em se brotar flores de ametista,
Elas agora podem ser apenas flores funerárias,
Jogadas na pira de meus amigos e do meu amado.

Heitor, arrancastes um pedaço de mim,
Me devolvestes a realidade matando os meus sonhos.
As Muralhas de Tróia são realmente impenetráveis,
E eu permaneço na praia, cansado, fracassado,
Onde apenas os barcos e a dor me fazem companhia.

A lâmina fria e cega que rasga a traquéia,
O sangue que corre quente, chovendo metálico na areia,
Tirastes a única coisa que ainda tinha valor,
Oh nobre Heitor.

Por que não cravastes logo a lança no meu peito,
Para as farpas então trincarem de vez meu coração?
Sangue sem uso e desperdiçado,
Erguido de Têmis pela mão,
Não só o calcanhar não foi banhado,
Como esqueceram de proteger nas águas,
Meu fastigado e inconsequente coração.

Meu querido e amado Pátroclo,
Tua pira irá brilhar para sempre na história,
Enfeitada pelas lágrimas e pelos urros lancinantes de dor,
Competindo com as mais belas deusas,
Só pela beleza de morrer sem antes ter existido.

Tua falta me dói demais,
Meu leito está muito vazio,
Mais oco do que as palavras que tentam consolar.

Sabia que os assuns tambéem permeiam o Mediterrâneo?
E o assum preto canta mais alto do que nunca,
Em sua dor cega ele agoura minha alma,
Engaiolada neste litoral penoso.

Assum branco parece que não há,
Pássaro onírico que não volta das cinzas,
Mora nos campos verdes da esperança,
Incendiados pelas tochas da realidade,
E pelas incansáveis piras da derrota.

A ironia é que no templo de Apolo,
As vestais que eternizam sua chama.
Apolo, não fui eu que matei Jacinto, não se vingue de mim,
Foi o Vento do Leste, também.

Imcompreensão, inveja e desejo...
Mais violentos que a prórpia vida,
Viver é muito perigoso...
Sempre foi.

A Benção Verde




A Benção Verde

O sertão sou eu,
A força que nunca cessa,
Vida que brota na seca,
Flor que brota na pedra.

Esperança de chuva,
Terra que tem sede,
Espera dos céus,
A benção,
Que explode,
Verde.

Um oceano de vida,
Clorofila que toma conta,
Terra mais que fértil (generosa),
Só precisa que chova (a dança).

O menino é ventania,
Que traz areia pro meu terreiro,
Traz seca e morte,
A menina é a lágrima,
Sal que traz sorte,
Dor que chora e floresce a terra,
Em soluços de enchentes, vida e morte,
El niños que brincam de Deus.
Fazendo do meu terreiro, seus,
Maniqueísmo de água.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Empty


O amor em sua forma mais pura e bela toca tudo por onde passa. Mancha tudo com luz. E nós, ímpios vazios, sedentos por vinho, vorazes por carícias. A solidão é nosso maior medo, nem que seja a o medo de se separar da sua lucidez.

Em nossa estupidez ignoramos os avisos do corpo, o repúdio e a preservação. A dança onde a vida e a morte se confundem. O nosso impulso de se completar é tão forte que na turbulência de nossas emoções nós nos perdemos, e confudimos amor com consumir.

Métricas, rimas, imagens, técnicas... Apenas minhas tintas bonitas para retratar o mesmo caos visto de um ângulo diferente. Tudo é Caos e Egoísmo. Vontade de existir e crescer em tudo. E a pressa de ler que engole as palavas pesadas onde cada uma guarda mil sentidos diferentes em si. Os sentidos se perdem no vazio do cotidiano.

Queremos tanto, tanto... E nem sabemos o quê. As vezes até pensamos que sabemos.

- O que você quer? Ser feliz?
- ...
- Resposta velha.

Já estamos a tanto tempo nesse mundo e continuamos empty do mesmo jeito. Geladeiras, eis a diferença.

O que pode nos libertar?

- Liberte-se!

Uns dizem que alguma coisa está aí, em cima, mais forte, e superior. Outros acham que a vida em si já é uma dádiva. Só sei que quando ando sozinho pelas ruas à noite e a solidão toma posse de mim, nada pode me consolar. Me curo pela dor. Aos poucos.

Deus não fala, ja repararam? Alguns dizem que fala. Bem, quando ele falar comigo posso até concordar, até lá não sei.
Deus não fala ou nós somos surdos? Orgulho ou defeito de fábrica? E se ele não fala porque não tem boca, porque não pode? Seja como for, eu tenho mais medo do silêncio dele do que dos meus erros, da minha sina. Triste sina.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

To Silence and Pain




To Silence and Pain

The tear drops, bright,
Lightining the face, river,
Crafting sorrow? Pain,
Or showing what was already there?

Embers in the wind, reality,
Blazes of passion, the dream,
Rain? Life´s joke,
Or inevitable consequence?

The silence is in the room,
He speaks english,
Just like you,
Bringing forggoten memories,
Silence and Pain. Saudades.

"Miss us", is not enough,
I still want your shadow over me,
Teaching me new retorics tricks,
Annoying my soul.

Tell me that it was not just lies,
Was not just hot blood,
Falling, turning ground into red,
From my bleeding heart,
Dilacerated by your ilusion´s.

Sade seems so sad,
Now that you´re not here.
I´ve never liked to hear the cat growning,
As you always hated to hear me to sing.

Cleaverness was a colourfast word,
When I used to listening you to talk.
But love was a gray paint,
Our life´s ashes in the wind.
Deus conversando com Adão e Eva:

“Olha só: cês andam pelados, brincam pelados, se abraçam pelados. Mas sexo, meus filhos, não pode. Ter tesão é motivo pra arder no inferno, apesar de ser algo natural. Mas ó: papai ama vocês, tá?”

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Reflexos Enantiomorfos



Reflexos Enantiomorfos

Limpe o teu espelho,
Até a ferrugem o consome,
As manchas já o embaçam,
E até a sua essência aos poucos some.

Você quer simplesmente esconder
Pedaços de reflexos enantiomorfos demais,
A igualdade para alguns dói, eu sei.
E você tem medo de ser mais.

Sua luz se enfraquece nas sombras,
Vagalume tão sereno e original,
Não se perca nas areias do sertão egípcio,
Projete tua luz no litoral.

Eu quero teu espelho limpo,
Porque o teu reflete o meu.
E nos já nos conhecemos,
Partilhamos do mesmo reflexo,
E até do mesmo breu.

Você não me pertence




Você Não me Pertence

Um fogo que se queima,
Pois a chama é o próprio combustível.
Não há resina, teimosia inflamável,
Só as brasas eternas que escrevem no chão de pedra.

Um frio glacial me persegue;
Meu coração somente pulsa. Se aquece.
Procurando no céu uma resposta,
Sentindo da terra a brisa.

Falando com as pedras,
Procurando você em cada esquina,
Em cada onda, em cada pássaro,
Em cada flor.

Vou parar de procurar.
Escrever a esmo flor e coração no mesmo papel não pode ser bom sinal...

Acho que isso é apenas o destino querendo me lembrar que...

Flores de Ametista





Flores de Ametista


Minhas pinturas são coloridas,
Realistas, modernas e desoriginais,
Singrando o rio de pedra,
Vadeando pelas margens os pontais.

O Retrato cálido metafísico,
O Beijo Deminiano,
Inversão tesa to tísico,
Foto que sangra no meridiano.

A sina das pradarias me foi dada,
Não foi estepe, sendo sonho adeliano,
Captando as areias do Sertão moreno,
Flor de pedra, orvalho desumano.

O segredo do São Francisco,
Espalhado pelas minhas tintas,
Lutando contra o vento do mundo,
Brotando flores de ametista.