sábado, 20 de agosto de 2011

Zé Galinha


"Política". Polis. Grécia. Etimologia.

Hoje a palavra está irremediavelmente manchada. Tão podre que nos causa a asco ao ouvi-la. Principalmente quando associada aos palácios brancos do planalto central.

Parabéns a todos os políticos que tornaram isso possível, tornando acessível o entendimento da palavra ao resto da população, mesmo que tenha, digamos, um sentido distorcido.

Começaram a utilizar o sentido vulgar da palavra. Emporcalharam o sistema público. Causa ou efeito? O ovo ou a Galinha? Nem Darwin explica quem veio primeiro nesse caso aí, onde o reflexo do sentido foi se transformando na própria imagem.

Só sei de uma coisa, que se eu fosse a galinha eu teria muito cuidado pra não ser sequestrada, ou roubarem meu ovo, porque do jeito que as coisas vão, só é o que falta aparecer no Jornal Nacional agora é:

"Deputado é flagrado com galinha roubada escondida nas partes íntimas!"

Quando interrogado sobre o caso, o político honesto e proselitista alegou:

"Erotismo entre as espécies! Erotismo entre as espécies! Foi tudo por amor!"

Zé Galinha então, agora com um novo apelido e graças a sua popularidade, ganhou dois ministérios recém criados de uma vez: Ministério da Agropecuária Aviária, e Ministério Da Diversidade Sexual Entre As Espécies.

E graças a Legenda eleitoral, histórias parecidas aconteceram com Zé do Boi, Zé do Jegue, e Zé da Ovelha.

O Povo Brasileiro foi vingado no dia então que um dos Zés tentou esconder um Diabo da Tasmânia nas partes íntimas. Nunca a democracia funcionou tão bem no mundo. Esse foi o dia em que o povo deixou de ser Galinha, e começou a ser um verdadeiro demônio na hora de exigir seus direitos. Taz que o diga.

Fim.

Descobertas Etéreas


Deus é como o ar que sustenta a vida, não pode ser visto em sua essência, mas reconhecemos as consequências de suas ações, como o farfalhar das folhas de uma palmeira. Por não sermos leves e sensíveis como a folha, raramente sentimos sua brisa fria no rosto.

Mas essa condição humana é temporária. Somos crianças tão interessadas em descobrir primeiro os brinquedos dentro de nossa casa que esquecemos de ir brincar na varanda e experimentarmos descobertas mais etéreas.

Estamos a um passo de entrar na escolinha... A nossa ciência hoje, tão nova, ainda ignora o ar. Mas quando descobrirmos nas aulas que virão o O2, N2, H2, CO2, 78% de Nitrogênio, passaremos a respirar diferente de certa forma, e a compreender várias coisas, a hematose, por exemplo, que sustenta a vida.

Na primeira Manhã

Quando você perde alguém que ama muito... O que acontece?
O que você faz, como você pensa, como você se comporta?

Quando alguém morre, e você se vê sozinho no mundo, inconsolável, onde a única música que toca no ar é a solidão.

Que é fera, e devora, e é amiga das horas e prima-irmã do tempo.

Como é no dia seguinte, quando você acorda?



Na Primeira Manhã
Alceu Valença


Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho
Como um conde falando aos passarinhos
Como uma bumba-meu-boi sem capitão
E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o prumo e desatina
Como um boi no meio da multidão
Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinho
Cruzei ruas, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contramão
Pelo canto da boca num sussurro
Fiz um canto demente, absurdo
O lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão
Solidão.


Veja


sexta-feira, 12 de agosto de 2011


Metonímia do Desejo II

Chegou em casa depois de um longo dia cansativo e inócuo. Bateu a porta deixando suas preocupações na brutalidade sonora. Os vizinhos que se lasquem. Deixou suas coisas em cima da mesa da sala e foi correndo direto pro quarto. Trancou a porta e foi se despindo. Estava sozinha em casa, mas trancar a porta a deixava tranquila. Tirou a blusa branca sem manga, ficando apenas com um sutiã preto e uma calça jeans, que logo saiu também. Ficando com o conjunto preto na frente do espelho, se olhando. Sua pele branca, seus longos cabelos negros, ela se olhava no espelho dona de si, do seu corpo, e por causa dele, dona de outros. Seus traços eram femininos e delicados, suas curvas eram ousadas e chamativas. Exalava sensualidade de cada poro da pele. Foi para o chuveiro. Abriu, e completamente nua, sentiu a água fria lavar seu corpo e serenizar suas agitações. Até a porta do banheiro estava trancada. Pra quê isso tudo? Perguntou para si mesma. Sabia e não sabia. A água começou a deslizar pelo seu corpo, tomando direções diferentes mas partindo todas do rosto inclinado em direção a ducha. As gotas em câmera lenta percorriam sua testa lisa, desciam pelo nariz pequeno, entre os olhos, e saltava pela boca, fazendo o caminho completo pelos lábios que duplamente se umidificavam. Descia pelo queijo, deslizando, alpinista, pelo pescoço, descendo até o seu busto, deslizando mais devagar agora pelos seus seios, contornando toda a sua extensão, passeando como numa pradaria indo até o bico rosado que Ela ostentava orgulhosa. deslizou devagar e caiu no chão. Várias outras gotas vieram. Percorreram caminhos diferentes. Passando pela sua barriga, sua cintura, seu ventre, sua genitália. Ela sentiu um arrepio. Teve a líbida ideia de percorrer o mesmo caminho com suas mãos. E com um dedo desceu leve seu próprio rosto passando provocantemente pela boca e chegando sem demora nos seios, onde abriu as mãos e os apalpou. Sentiu toda a sua potência de fêmea. Se acariciou, sentiu arrepios de prazer. As duas mãos. Os dois seios. Uma mão ficou, a outra foi, dedilhando a barriga chegando até a sua vagina, e com o dedo hábil de quem se conhece, massageou seu clitóris, se provococando gemidos, expansões, contrações, dilatações. Calor. A água fria e seu corpo cada vez mais quente se irmanavam numa dualidade intrigante e inocentemente deliciosa. Começou a agitar seu dedo, fazendo movimentos inimitáveis. Só ela se conhecia o suficiente. Só ela sabia fazer aquilo desse jeito. Aumentou a velocidade. Mais gemidos, mais prazer. Uma onda de calor e êxtase emanava do seu corpo, que implorava para que ela não parasse. Continou implacável na sua luta contra si mesma, obtendo o prazer em cada nota, em cada tom de sussurro, em cada palpitação, em cada pulsação. A onda dentro dela foi crescendo e tomando forma, se espalhando, e como uma sucessão de ondas na maré alta, enchendo seu corpo e mente, invadidos por ondas inquebrantáveis de orgasmos, um atrás do outro. Mal podia se controlar, suas pernas bambas e seu corpo amolecido falhavam na tentativa de ficar em pé do mesmo jeito, ela se contraia para si mesma, numa posição quase fetal, absorvendo cada segundo daquelas sensações. A Água ainda percorria seu corpo, agora mole, extasiado, catatônico.

Fechou o chuveiro. Abriu a porta e se enxugou delicadamente, vestindo logo em seguida seu robe branco quase transparente. Estava descansada, relaxada, plena. Foi até a varanda, abrindo a porta corrediça de vidro dando acesso a murada livre de frente pro mar. Era noite. O vento acariciava sua pele seus cabelos negros, beijando-lhe a face, desviando nos seios, e levantando de leve a sua saia. Esvoaçante. Ela sentia cada brisa como se fosse um beijo, um abraço na cama, um frio que lhe causava deliciosos arrepios no final das costas e na nuca, eriçando seus pêlos. Talvez alguem de outro andar a estivesse vendo. Ela não se importava, talvez até no íntimo gostasse de se exibir, e levar um homem a loucura com uma cena rara daquelas. E o vento soprava mais forte, e arrancava-lhe o calor do corpo e se insinuava cada vez mais na saia, penetrando agora suas reconcavidades, fazendo-a tremer.

Cada movimento na mão, cada sopro de brisa da mais delicada a mais ousada, cada gota de água que percorria seu corpo era Eu.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Água Benta de Chuco nos encostos.

Represas



Represas

Os Homens, engenheiros,
(Com toda a sua racionalidade)
Constroem suas represas.
Desviando, estancando, coagulando...
O fluxo dos seus rios.

Os rios de dentro.
Pois na amplitude Masculina a água não corre.
Estática, independente, paralisada.


Mas a água brota, nascente,
Mesmo que não se queira.
Devagar, descendo, impetuosa,
Descendo e tomando forma.
Se acumula num ponto,
Batendo na porta do abismo.
Se acumula como quem dá um passo.

E os Homens rebentam.
Ou então, secam,
Drenados pela própria vida que tem sede.

Secos ou Molhados,
Eles são estilhaçados pela inércia da morte
Que não permite atrito.
O calor da retenção é inadiável,
E a represa sangra,
Abre as comportas,
E a enchente toma conta,
E afoga o que sobrou do Homem.

Cinzas


Cinzas

Com você eu aprendi a afiar minha própria verdade,
E testá-la depois na minha própria carne.
Burlesca e inócua.
Um carnaval de desinteresses,
Um Pierrot apaixonado pela quarta-feira de cinzas.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Punho

Minha pena segue uma linha invisível no papel, sequenciada numa lógica só entendida por quem entende a vida. Ninguém a entende. Talvez o meu punho se entenda.

Ritmado, autônomo e falho. Transparente.
Independente, livre, audaz. Mórbido.
Sereno.
Efêmero.
Eterno?

Baliza

Baliza

Aborto na estrada,
O cavalo desenfreado,
A vida freada,
Ponto Morto.

Marcha ré no retrovisor,
Inócua e inerte,
Baliza na eternidade.