domingo, 29 de agosto de 2010

Discordando de Jobim





Discordando de Jobim




Eita, eita que vida boa,
Vida boa pra quem sabe ler seus truques,
Respirar seus ares, colher seus frutos,
Tocar na terra, botar o pé na água,
E o vento nos cabelos...

Namorar com a natureza ja é o bom demais,
Mas uma homenagem triangular é ainda melhor.
Tudo é felicidade nessa vida
Para quem só tem paz e amor pra ofertar.

Correr pelas artérias empoeiradas do chão,
Nadar em cuia de lágrimas das nuvens.
Tão azuis quanto aqueles olhos...
De quem eram os olhos mesmo?
No final a gente só se lembra das lagoas...
Os donos e donas dos olhos sempre ficam num cantinho,
Atrás da Porta, no breu escondido e prolixo,
No recôndito reescondido de nossa memória.

Tantas flores pelo caminho!
E eu só arranquei aquela de onde brotava um seio nú.
Tantos passarinhos pra se cantar junto!
Canários e Sabiás são meus vizinhos e visitas.
Coral lindo de assovios interpostados.

Aprender a ser feliz sozinho,
É discordar de Tom Jobim,
Isso nunca pode ser bom...

Eu, alguém, nós dois, seria muito bom.
Mas é melhor ser feliz sozinho,
Do que ser triste e concordar com o mestre.
Sendo só, somente triste,
Dançando só, e se julgando amado ao som de um mp3.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Abraço Pétreo







Abraço Pétreo


Se eu pudesse escolher alguém,
Para envolver por toda a eternidade,
Esse alguém seria você.

Minha pele na tua pele,
Meus braços pelo teu corpo,
Tua cabeça no meu peito,
Um abraço pétreo através das eras.

Um monumento a Afrodite,
Uma obra greco-romana,
Teu peito de pedra respira,
Batendo dentro a dádiva humana.

E seríamos um par de estátuas,
Entrelaçados pelo tempo,
Não há erosão que nos consuma,
Areia, pó, vento.

A chuva ácida de São Paulo,
Nem tua pele marcará,
Pele que seria só minha,
E da verde relva a se instalar.

Mármore, pedra ou bronze,
A nossa forma não importa,
A flor do sexo é de estanho,
Ela bate na nossa porta.
Atendo?

O Pássaro Assimétrico





O Pássaro Assimétrico

O pássaro assimétrico bate as asas,
Cintila sob a luz do sol,
Voando na imensidão azul entre nuvens,
Reflexo, brisa e anzol.

O voo é imperfeito,
E ele desafina no ar,
Tal qual se desafina na vida,
Sina de quem se atreve a cantar.

Não há árvores para pousar,
Não há ninhos para constituir,
Não há descanso neste voo infinito,
Nem há eco neste agudo grito.

Ele olha tudo de cima,
Quem vê do chão diminui sua majestade,
Não enxerga o seu valor,
E toda a beleza que emana das imperfeições.

O pássaro às vezes é de metal,
Outra hora é apenas de papel,
E escreve poesias,
Pintando beleza,
Desenhando no céu com suas tintas,
Poemas que ninguém nunca irá ver.

O pássaro reto e imperfeito,
De traços precisos e originais,
Não acha um par na terra,
Não há pássaros iguais.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010








Vento gélido que corta a face,
Que nem a saudade corta o peito,
Por dentro, feito desejo forte,
Como a fome, que tudo devora,
Tal qual a tristeza, que corrói pouco a pouco,
Da mesma forma que a ferrugem,
Que consome a lâmina fria que corta
A cara, feito um vento gélido qualquer.

Ruas infinitas que percorro,
Sozinho, e somente só,
Feito em egoísmo, que envenena
E mortifica a alma,
Pois tudo veio do pó,
E tudo voltará a ser pó,
Feito a flor, que nem a saudade,
Tal qual o gélido vento.

Como a lâmina e sua ferrugem,
Que é o seu próprio veneno e dos outros,
Pois corrói a si mesmo,
E toda carne que toca,
Da mesma forma que o desejo,
E o desejo e a corrosão também se tornarão,
Tornar-se-hão pó também.

A tristeza, você, eu, este papel, o seu computador,
E até a sua alma. Principalmente a sua alma.
A minha antes vai morar no mar,
Só pra demorar a virar pó,
Só pra fazer o mal.

Ei, alguém pode arranjar uma vassoura aê?
Uma bem grande de preferência :P

Boa Viagem










Este aqui foi um poema escrito especialmente pra minha querida amiga Jéssica, que vai viajar, e compartilha comigo um dos meus maiores orgulhos na vida: Ser Pernambucano.



Boa Viagem


Venha pelas veredas do sertão,
Do Capibaribe ao litoral,
Se irmanando com o chão,
Por onde passa, vento e sal,
Chegando que nem brisa,
A refrescar meu coração.

Pernambucana de terra e sangue,
De fé orgulho e raiz,
Corpo que vem do mangue,
Alma que é por um triz,
Irmã de terra da minha,
De destino equidistante e feliz.

Suba comigo as ladeiras da Sé,
As sete pontes da Veneza Nordestina,
Madalena, Casa Forte, Cordeiro,
Aflitos... Aflito eu vou ficar,
Só por sua causa,
Só por causa de Boa Viagem,
Boa Viagem, Boa Viagem, Boa Viagem...