terça-feira, 28 de junho de 2011

Ode Aos Vigias do Breu

Desculpem se eu erro o passo e tropeço na eternidade, não é que eu esteja embriagado de ilusões, mas a luz não me alcança, e eu, solene, abraço as trevas.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

... E me conforta ter teu nome na minha janela para o mundo. Só o teu nome e nada mais.

domingo, 26 de junho de 2011

Machado Mandou Um Recado Pra Você

Machado Mandou Um Recado Pra Você

- Mas João, eu já disse, tinha uma pedra no meio do caminho! O que porra eu poderia fazer?
- Não Mané, tinha uma pedra, e você não perguntou nada a ela? Num deixou ela te ensinar nada? Caralho.
- Ensinar o quê, João? Tá louco? Uma pedra me ensinar?
- Mas João, não adianta forçar, a lição da pedra só é aprendida por quem consegue falar com ela, feito você. Tem gente, como eu, que, só aprende pelo ar, pela fé, pela força vital da sensualidade, nem todos podem aprender com a pedra, entenda. Manuel, eu acho aprendeu mais com o fogo, com a metalinguagem, não sei.
- Adélia... Não se perde uma oportunidade dessas, não se acha uma pedra no caminho duas vezes! Mas tudo bem, vamos ao que interessa então. Me traz notícias de Sevilha?
- Não João, eu só vim perguntar uma coisa a vocês.
- Agora que percebo - Disse Manoel - Você ainda tá do "outro lado". Rosa explicou tudinho. Ele fingia que num sabia, o safado, mas sabia de tudo! Tá no sertão. Tá no Chico. A gente passou e quase não conseguiu ver.
- Pois é, Mané, aprendi tanto com a passagem que você nem imagina. As pedras ensinam, mas a morte então! Aliás, Adélia, como é que você já tá por aqui?
- Ah, João, vai saber. Eu devo estar dormindo, e quando acordar só vou lembrar de poucas coisas: "Tive um sonho maluco hoje com João Cabral e Manoel Bandeira, querido!". Vai ser uma boa história no café. Então, me digam afinal: A gente quando vem pra cá, lembra dos livros que já leu, das pessoas que a gente já beijou, das comidas e das bebidas que a gente já provou? E novos livros? E novas pessoas para se beijar e novas comidas e bebidas? Tem?
- Você não faz ideia, Adélia.
- Sério?
- Séríssimo. Pasárgada existe.
- Mas e os poemas? Ainda se tem fonte genitora nessa situação?
- Você nem precisa escrever - Disse Manoel - Eles transbordam pelos poros da pele, pelos olhos, pela palavra... Tudo é apoemado por aqui. O poema por si às vezes cria asa, à la Quintana, e sai voando e cantando, ecoando pelas paredes da alma.
- Que coisa linda! Mas me digam, se tem tudo isso, e de certa forma as coisas "continuam", por que a gente tem que passar por tudo aquilo antes?
- Tem uma pergunta mais fácil, não? Isso aí acho que nem Rosa sabe. Talvez saiba. Sabia que aqui não tem canavial? As canas-de-açúcar crescem lado a lado de tudo que é fruteira.
- Imagino, João. Mas e quando a pessoa se cansa disso tudo, como faz? A eternidade é muito longa, e o tédio é muito rápido. Um ilimite pode ser torturante, não?

- Deixa que eu respondo essa, meus queridos colegas Além-Brasil. Prazer Adélia.
- Prazer, Guimarães.
- Olhe, daqui quando se aprende tudo, o que demora muito, depois de preencher umas papeladas e fazer uns testes na burocracia do Cara lá, você senta na sala de espera, e espera o resultado, tomando aquele café com uns pãozinhos de queijo. Quando você é aprovado, você passa daqui para uma melhor.
- De novo?
- Assim, você é promovido. Vai ganhar novos sentidos, ferramentas, conhecimentos, para uso próprio. Mas acima de tudo, para ajudar os outros. Escrever é um detalhe tão minúsculo... Tem muita gente que faz coisa muito mais importante. E de vez em quando pra passar o tempo a gente manda alguma coisa daqui quando tá faltando coisa boa daí. É uma briga de foice pra saber quem vai mandar o quê. Zerinho ou Um, Mamãe-Mandou, Pedra-Papel-Tesoura, e às vezes campeonato de Naruto quando a coisa esquenta.
- E os santos?
- Os católicos ou os ecumênicos?
- Os dois.
- Alguns são pseudo-santos. Desfilam por aí como se tivessem auréola, corrompidos com vaidade eclesiástica inútil, só tem ego-pós mortem. Os santos de verdade não pararam. Até hoje estão a ajudar os mais necessitados e a lutar por seus ideais.
- Adélia, o papo foi ótimo, mas temos que ir, vamos tomar uma com Drummond. Aqui nem se tem ressaca sabia? hahahaha. Um beijo minha linda, até daqui a 30 anos.
- Um grande abraço, minha querida, continue com seu trabalho maravilhoso, quando você vier vai ter um lugar na mesa só pra você!
- Obrigada, meus mestres, João & Manoel. Vão lá, mandem um abraço pra Carlinhos, saudades dele. Beijooooos.

- Adelinha, ta ficando tarde, acho que você tem que ir, né?
- Sim, Rosa. Mas me diga, como devo fazer as coisas até voltar de vez pra cá?
- Seja exatamente como você foi. Amando intensamente e com propriedade sem nunca se arrepender de se olhar no espelho e encontrar seu próprio reflexo.
- E se isso tudo for um sonho? Um suspiro?
- Então, qual seria a importância do que eu falasse? Se eu fosse apenas parte da sua epifania morfiana, minhas palavras teriam o mesmo valor da sua auto-reflexão. Um sopro de pensamento, transmorfeado em Romanceiro Mineiro. No final, o que importa é o que (Você) pensa sobre isso. Morrer e desaparecer por absoluto é meio chatinho. Acho que ter esperança não faz mal se esse for o caso. Adoça a vida, no mínimo, que se parar na primeira morte já tem gosto adstringente de terra, caixão e pó. O homem só é realmente feliz quando ele foge da realidade dos sentidos sem se perder deles. Música, teatro, perfumes, sabores, sensações...
- Devo ter fé? Ou devo ser cética?
- Negar é sempre complicado. Dissimular para os sábios é o melhor. Seja dissimulada com a morte, e convença a vida de que ela vale a pena, começando ou acabando no óbito, dá no mesmo. O que vale são os feitos que ecoam na eternidade(se ela existir), e reverberam nas gerações vindouras; e o aproveitamento da vida. Se ela é única e sem próposito, é nosso dever tirar o máximo dela. Se ela é múltipla, ou é passagem, é nosso dever tirar o máximo dela do mesmo jeito, do mesmo tanto.
- Rosa, como ele é?

...

- Adélia? Meu amor, vai se atrasar pra palestra, tome seu café e se vista. Trouxe tudo pra você aqui.
- Ah, bom dia, meu querido. Você não vai acreditar no sonho que eu tive, não lembro de quase nada, só sei que João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira tavam discutindo, sobre alguma coisa, uma pedra, ou uma árvore, eu acho. Ai veio Guimarães Rosa me falar umas coisas misteriosas que eu não lembro nada agora!
- Mas até nisso você quer ser melhor do que os outros! Enquanto o povo acorda chorando quando sonha com defunto, você sonha com a Academia Brasileira de Letras! Machado mandou nenhum recado não?
- Mandou.
- Qual?
- Vai tomar no cu, Jonathan.
Eu descobri que eu sou poeta primeiro porque eu queria ser melhor do que os outros. Depois porque eu tenho preguiça em escrever em prosa. Falo dois livros em dois versos. Se consigo é outros 500. Acho que às vezes sim.

Ou seja, sou uma construção da vaidade do orgulho e da preguiça. Hell, let´s go? Agora ou me pega na saída, sua linda?

sábado, 25 de junho de 2011

Pot-pourri da Dança do Caçador das Estrelas

Bem que eu queria,
Te fazer uma presa da minha poesia.

Embora eu te tenha afeto,
Eu acho graça do meu pensamento,
A conduzir o nosso amor discreto.

The love you make
Is equal to the love you take.

Cantar é mover o dom
Do fundo de uma paixão
Seduzir as pedras, catedrais... oração.

Solto a voz nas estradas,
Já não quero parar,
Meu caminho é de pedra,
Como posso sonhar?

Invento o cais,
Invento o mais que a solidão me dá,
Invento Lua Nova a clarear,
Invento o amor,
E sei a dor de me lançar.

Estrela, estrela
Como ser assim
Tão só, tão só
E nunca sofrer.

Por tanto amor,
Por tanta emoção,
A vida me fez assim,
Doce ou atroz,
Manso ou feroz,
Eu, Caçador de mim
.
Desilusão, desilusão,
Danço eu dança você
Na dança da solidão.

E quem suportar uma paixão,
Saberá que o samba então.
nasce do coração.

Apoteose

Apoteose

Na minha digressão, plagiar Clarice Lispector. Mas, como Ariano Suassuna, uma pequena explicação antes de um texto. No meu caso, uma pós-digressão de mim mesmo.

Como narrar os sonhos? A profundidade abissal dos desejos humanos? A força motora de luz e trevas que travam uma inacabável guerra maniqueísta dentro de nós e nos move sempre em frente.

Ela. Braços e abraços. Véu. Cabelo. Seios e pernas. Ombro e mãos. Pescoço, cheiro. Seios. Rosados, imprudentes, orgulhosos. O centro do mundo, o umbigo. As costas, deslizamento de sensações. Pernas, amplitude. Ela, Galatéia de uma imperfeição virtuosa, presente pétreo de Afrodite. Gemidos. Dores. Nem tão dores assim. Ela, prazeres. No plural. Fragilidade em pura potência. Voz doce, melodiosa, encantamento;

Ele. Cabelos, Peito em riste. Nádegas orgulhosas, triunfais. Ele, boca, ofegante. Ombro, amplitude. Braços em arco, flechando o desejo. Costas, deslizamento oblíquio de sensações. Ele, o centro do mundo, o umbigo, obtuso em sua circunferência. Voz doce, rasgada, encatamento. Peito em riste, língua, água e sal. Ele, Apolo de imperfeições dionísicas. Gemidos, prazeres, nem tão prazeres assim. Ele, prazer. No singular. Potência em pura fragilidade. Voz acre, harmoniosa, Encantamento.

A assimetria é uma tentativa de perfeição. Simetria é outra. A desimportância da geometria nos envolvimentos é a Apoteose.

E os corpos pendidos pelo tempo: flácidos, fracos, rugosos, ásperos, inchados e desbotados.
Mas o desejo não morre.
E a eternidade é pouco tempo para se descobrir todos os vãos e atalhos no corpo do outro.
Mais um dos motivos que precisamos que o Céu exista.
Uma ideia inabalável de liberdade, degustamento e absolutismo que não pereçam.
Por isso eu creio. Se o ceticismo é instintivo e racional, sejamos irracionais.

"People who needs people are the luckiest people in the world."

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Da maior importância

Da maior importância

O signo de escorpião rege as tentativas frustradas de se envenenar no escuro.
Sargitário atira flechas contra os muros da lucidez.
Virgem medita na inocência de uma solidão. Uma eterna solidão.

Isso tudo quando não havia signo nenhum. Signo nenhum.

Touro se cala como vozes inefáticas dos currais.
Gêmeos não se conhece. Ninguem os conhecem.
Câncer corrói tudo com sua língua pútrida. O beijo da morte lenta.

Isso tudo quando os signos se mostram no escuro. Na carestia de sentimentos.

Leão devora suas vaidades em um fogo em que só ele se alimenta.
Libre pesa as fortunas de sua própria imbalança.
Ariés se sufoca com a falta de si mesmo. Tudo se falta o suficiente.

A verdade é crua e surda. Não há signo nenhum. Signo nenhum.

Capricónio é onírico, só existe nos antros poluídos do ópio.
Aquário se afogou no seu isolamento vítreo. Nimbus et Plumbus.
Peixes não se multiplicaram. Morreram de fome.

Os signos não existem. Da maior importância é saber qual é a sua inexistência.

http://www.youtube.com/watch?v=JWTQ6Eico8E


"Lous ym fo swodahs eht ni erehwemos, ereh llits s´eH."
Decifra.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Mandala Sincopado

A morte é feito a bosta, equilibra o outro lado da perfeição, e está contida nela.
(Na perfeição ou na balança?).

Por não sermos eternos, cada pequeno ato nosso se impregna de um brilho único. A fatalidade de sermos únicos. Os nossos atos, marcados para sempre e inigualáveis, insubstituíveis, e irretocáveis. Escrever sem corretivo. Um rio não é mais o mesmo rio.

O Rio dos Deuses é estático. Sem corrente, é uma fonte maquinada e cíclica nela mesmo. Um mandala sincopado. Não há começo, nem conclusão. Só há a prisão pelas eras. A flor do tédio e a morte do fim.

E o buquê final das flores é a Inveja, já dizia Aquiles. A mais aguda e penetrante das Invejas, onde o pólen enebriava com fecundos grãos de Ciúme. Sim, são diferentes. Sim, Zeus explica.

Dizem que a nossa desgraça começou daí.

Já a nossa efemeridade é o que nos torna únicos, e a nossa incompreensão sobre o eterno e o absoluto, o que chamamos de Deus, é fruto da inexistência de qualquer coisa eterna dentro da nossa compreensão.

Ainda bem. Viver 10 mil anos seria ótimo. Mas 10²³²¹²¹² anos não. quer dizer, isso x 10³³³³³³... E mais... Parei.

Se for na base da "volta", muitas revoltas. Eternidade do mesmo jeito, e amnésia periódica? Não creio. Mas é um bom jeito que inventaram de ser único e eterno ao mesmo tempo. A única conjugação das duas teorias possíveis. Clap clap. Dá vontade até de acreditar.

Ainda bem que um dia vou morrer. Viver é muito bom, mas saber que o final de semana um dia vai chegar é muito melhor.

domingo, 19 de junho de 2011

Sol Negro


Sol Negro

Dentro da realidade as cores dos sonhos se desbotam.
Sentimentos estranhos...
Ilusões que se auto-alimentam:
Fazem fotossíntese de solidão e da angústia.
Se tornam mais fortes à luz do Sol Negro da dor e do medo.

Flores do Mal:
Umbrófilas,
Se alimentam das sombras.

Das minhas Sombras.

E eu sou o amor da cabeça aos pés,
E a sombra cresce no passo da minha luz.
Minhas sombras são infinitas.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A Cadeira de Ariano



A Cadeira de Ariano

Brota a poesia do ventre da terra,
Dos poros, da pele e dos cabelos brancos,
(Quase já não há mais cabelos brancos),
E brota da pena até quando prosa.

Flui do balançar da cadeira antiga,
No alpendre, na beira-mar ou no sertão.
Onde até a cadeira
E os cabelos se irmanam com o chão.

A terra se faz assim:
Dos velhos que teimam em ficar balançando.

Mas até lá as palavras sopram,
E os versos singram as metonímias desgastadas,
E Ariano pela janela,
Imprime no papel as cores desbotadas.

Mas agora o balanço já é pedra,
O ancião finalmente entendeu a lição,
Pois de morro se faz a terra,
E mais inefática ainda
A voz ecoa na amplidão.
"O jogo da conquista tem muitos truques e um só desafio: vencer o medo de demonstrar o amor."

terça-feira, 7 de junho de 2011

Eu posso até ter algumas habilidades. Escrever, cantar, ser engraçado. Mas a melhor coisa que eu sei fazer é escolher meus amigos. Sou uma pessoa privilegiada por ter a honra de ter conhecido vocês. Ser amigo de vocês me faz infinitamente melhor como pessoa.

Obrigado Samyra.
Obrigado Amanda.
Obrigado João.
Se você ainda não achou nada, procure primeiro a serenidade. Só depois você deve procurar a sensatez que reside, escondida, na loucura. Quando achá-la, estarás mais perto de ser completo. Se você nem procurar sabe, primeiro se encontre, aí faça qualquer outra coisa que quiseres. Vagar pelo mundo desencontrado de si mesmo é um desperdício de vida. Não a desperdice.