sábado, 25 de junho de 2011

Apoteose

Apoteose

Na minha digressão, plagiar Clarice Lispector. Mas, como Ariano Suassuna, uma pequena explicação antes de um texto. No meu caso, uma pós-digressão de mim mesmo.

Como narrar os sonhos? A profundidade abissal dos desejos humanos? A força motora de luz e trevas que travam uma inacabável guerra maniqueísta dentro de nós e nos move sempre em frente.

Ela. Braços e abraços. Véu. Cabelo. Seios e pernas. Ombro e mãos. Pescoço, cheiro. Seios. Rosados, imprudentes, orgulhosos. O centro do mundo, o umbigo. As costas, deslizamento de sensações. Pernas, amplitude. Ela, Galatéia de uma imperfeição virtuosa, presente pétreo de Afrodite. Gemidos. Dores. Nem tão dores assim. Ela, prazeres. No plural. Fragilidade em pura potência. Voz doce, melodiosa, encantamento;

Ele. Cabelos, Peito em riste. Nádegas orgulhosas, triunfais. Ele, boca, ofegante. Ombro, amplitude. Braços em arco, flechando o desejo. Costas, deslizamento oblíquio de sensações. Ele, o centro do mundo, o umbigo, obtuso em sua circunferência. Voz doce, rasgada, encatamento. Peito em riste, língua, água e sal. Ele, Apolo de imperfeições dionísicas. Gemidos, prazeres, nem tão prazeres assim. Ele, prazer. No singular. Potência em pura fragilidade. Voz acre, harmoniosa, Encantamento.

A assimetria é uma tentativa de perfeição. Simetria é outra. A desimportância da geometria nos envolvimentos é a Apoteose.

E os corpos pendidos pelo tempo: flácidos, fracos, rugosos, ásperos, inchados e desbotados.
Mas o desejo não morre.
E a eternidade é pouco tempo para se descobrir todos os vãos e atalhos no corpo do outro.
Mais um dos motivos que precisamos que o Céu exista.
Uma ideia inabalável de liberdade, degustamento e absolutismo que não pereçam.
Por isso eu creio. Se o ceticismo é instintivo e racional, sejamos irracionais.

"People who needs people are the luckiest people in the world."

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