sexta-feira, 12 de agosto de 2011


Metonímia do Desejo II

Chegou em casa depois de um longo dia cansativo e inócuo. Bateu a porta deixando suas preocupações na brutalidade sonora. Os vizinhos que se lasquem. Deixou suas coisas em cima da mesa da sala e foi correndo direto pro quarto. Trancou a porta e foi se despindo. Estava sozinha em casa, mas trancar a porta a deixava tranquila. Tirou a blusa branca sem manga, ficando apenas com um sutiã preto e uma calça jeans, que logo saiu também. Ficando com o conjunto preto na frente do espelho, se olhando. Sua pele branca, seus longos cabelos negros, ela se olhava no espelho dona de si, do seu corpo, e por causa dele, dona de outros. Seus traços eram femininos e delicados, suas curvas eram ousadas e chamativas. Exalava sensualidade de cada poro da pele. Foi para o chuveiro. Abriu, e completamente nua, sentiu a água fria lavar seu corpo e serenizar suas agitações. Até a porta do banheiro estava trancada. Pra quê isso tudo? Perguntou para si mesma. Sabia e não sabia. A água começou a deslizar pelo seu corpo, tomando direções diferentes mas partindo todas do rosto inclinado em direção a ducha. As gotas em câmera lenta percorriam sua testa lisa, desciam pelo nariz pequeno, entre os olhos, e saltava pela boca, fazendo o caminho completo pelos lábios que duplamente se umidificavam. Descia pelo queijo, deslizando, alpinista, pelo pescoço, descendo até o seu busto, deslizando mais devagar agora pelos seus seios, contornando toda a sua extensão, passeando como numa pradaria indo até o bico rosado que Ela ostentava orgulhosa. deslizou devagar e caiu no chão. Várias outras gotas vieram. Percorreram caminhos diferentes. Passando pela sua barriga, sua cintura, seu ventre, sua genitália. Ela sentiu um arrepio. Teve a líbida ideia de percorrer o mesmo caminho com suas mãos. E com um dedo desceu leve seu próprio rosto passando provocantemente pela boca e chegando sem demora nos seios, onde abriu as mãos e os apalpou. Sentiu toda a sua potência de fêmea. Se acariciou, sentiu arrepios de prazer. As duas mãos. Os dois seios. Uma mão ficou, a outra foi, dedilhando a barriga chegando até a sua vagina, e com o dedo hábil de quem se conhece, massageou seu clitóris, se provococando gemidos, expansões, contrações, dilatações. Calor. A água fria e seu corpo cada vez mais quente se irmanavam numa dualidade intrigante e inocentemente deliciosa. Começou a agitar seu dedo, fazendo movimentos inimitáveis. Só ela se conhecia o suficiente. Só ela sabia fazer aquilo desse jeito. Aumentou a velocidade. Mais gemidos, mais prazer. Uma onda de calor e êxtase emanava do seu corpo, que implorava para que ela não parasse. Continou implacável na sua luta contra si mesma, obtendo o prazer em cada nota, em cada tom de sussurro, em cada palpitação, em cada pulsação. A onda dentro dela foi crescendo e tomando forma, se espalhando, e como uma sucessão de ondas na maré alta, enchendo seu corpo e mente, invadidos por ondas inquebrantáveis de orgasmos, um atrás do outro. Mal podia se controlar, suas pernas bambas e seu corpo amolecido falhavam na tentativa de ficar em pé do mesmo jeito, ela se contraia para si mesma, numa posição quase fetal, absorvendo cada segundo daquelas sensações. A Água ainda percorria seu corpo, agora mole, extasiado, catatônico.

Fechou o chuveiro. Abriu a porta e se enxugou delicadamente, vestindo logo em seguida seu robe branco quase transparente. Estava descansada, relaxada, plena. Foi até a varanda, abrindo a porta corrediça de vidro dando acesso a murada livre de frente pro mar. Era noite. O vento acariciava sua pele seus cabelos negros, beijando-lhe a face, desviando nos seios, e levantando de leve a sua saia. Esvoaçante. Ela sentia cada brisa como se fosse um beijo, um abraço na cama, um frio que lhe causava deliciosos arrepios no final das costas e na nuca, eriçando seus pêlos. Talvez alguem de outro andar a estivesse vendo. Ela não se importava, talvez até no íntimo gostasse de se exibir, e levar um homem a loucura com uma cena rara daquelas. E o vento soprava mais forte, e arrancava-lhe o calor do corpo e se insinuava cada vez mais na saia, penetrando agora suas reconcavidades, fazendo-a tremer.

Cada movimento na mão, cada sopro de brisa da mais delicada a mais ousada, cada gota de água que percorria seu corpo era Eu.

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