quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Genghis Khan

Genghis Khan


Tenho saudades de quando eu era Deus.
Quando dormia aninhado sob suas barbas,
Longas, semíticas, latinas, ibéricas,
Entrelaçadas em fibra quase inquebrável,
Ponta e fio se confundindo entre Continentes,
Dá quase pra ver os povos e os vestígios de movimento.
Ali eu não conhecia os pecados do mundo,
E principalmente não conhecia os D´Ele.

Hoje durmo sem tenda,
Ao vento - Sereno.
A yurt branca de couro curtido
Não é mais esperança, vela, nem passagem.
É minha Muralha.

Durmo agora sobre o céu infinito,
Cavalgo com imperadores mongóis paralelo às estrelas,
E com o vento impiedoso me soprando
Ao me cantar solidão

                    - Faço com ele um dueto. O vento não sabe o que é solidão. Vem, Vento, que eu te ensino.

Achei que meus anos escorreriam,
Ampulheta inevitável de areia tão fina,
Deveria então aproveitá-los com eficiência hedonista máxima, claro,
Única forma válida de sobreviver.

Hoje, aprendi com uma Velha ao discordar dela
Que meu Capital vital se valoriza quando especulo-o pela paciência.
Quando sou Velho na rede na praia feito Caymmi.
Não se pode ser Príncipe Bórgia Ávido Tódo Témpo.

Tendo cavalos de menos e estepes demais,
As cavalgadas mortais devem portanto verter orgias e armistícios.
Pois os tempos bélicos ficaram no passado,
De mãos dadas com a e a ignorância.

Eu, sendo Jovem & Velho,
Só tenho tempo para os ventos calmos e as ondas serenas,
Para os deleites mais demorados - feito aquele beijo
Que parece que flerta com a eternidade...

O Grande Céu Azul é infinito.
E posso senti-lo me envolver, me abraçar, difuso,
Passando por mim e me consubstanciando.

                    - É desperdício ser pedra árida, insólita.

Quero ser brisa, calor e chuva,
Quero me transformar num dia bom.
Não tenho paciência para o manto dourado, alvo ou carmesim.
Não almejo Perfeição nem Flor Imperial,
Sou flor banal, daquelas que brota na pedra mesmo,
Mas teimosa por enradicalizar a liberdade.

E que tenho na cor um cheiro,
Na acústica um sabor,
Nas veredas um destino:
Deixar de ser Pedra e me fazer Rio.

Ser Cavalo é honraria e mérito,
Quem quiser que cavalgue em quem quiser,
Pois até Genghis Khan era Cavalo,
(E ninguém tinha nada a ver com isso.)

Eu sou aquele que joga armadura lustrada no chão,
Pois o Aço pertence à terra,
E eu já não convido lâminas nem flechas.
Meu peito foi feito pra levar vento,
Barco que ponteia meridianos,
Entropia Antropocêntrica de caminhos inconscientes.

                    - Tudo é Inércia

Já eu sou Apoteose Holística entoada,
Que reverbera pelas estepes.
Eu sou Horda de Luz-Aríete,
Destruindo todas as Sombras-Muralhas.
Eu sou a Liberdade à Cavalo,
Eu, Embaixo do céu - Sou.

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