domingo, 17 de abril de 2011

Você também gosta do Mortal?





Estavam os dois no bar do cais da cidade, aquela cidade fria, cinza, com muita neblina, cujo nome eu não lembro agora, mas sei que fica no litoral norte estadunidense, e isso é o que importa. Cada um na extremidade do bar cinzento e sem graça. Ela, linda, loira, com olhar ameaçador e provocante, vestindo um sobretudo que escondia-lhe tudo, menos os cabelos. Tomava um café. Ele, com um paletó comum, bonito, nem tanto quanto você tá pensando, cabelo castanho curto comum, sem chapéu, tomando sua cerveja sabe se lá de que procedência. Só eles, e o barman estático, ré-limpando os copos com cuspe.

Se encararam. Cada um num canto do bar, e não paravam de se olhar. Provocavam, escandalizavam, filosofavam, testavam-se.

15 minutos, e fingiam beber a mesma bebida, conversando tudo através daquele olhar. O Dono do Bar realmente não se importava, e já estava aborrecido por eles ocuparem mesas, mesmo com o local vazio, sem consumir mais nada.

Mais do que morgado, com muito tédio, ele ligou o rádio. Interferência, CNN, BBC de Londres, blá blá blá, tempo, rádio evangélica, txrrrwin, twrrrxin, girando o botão. Achou uma. Começou a tocar a música tema do Mortal Kombat. (Sim, aquela agitada)

De repente, o homem e a mulher se levantam e correm um em direção ao outro. Ela chega na voadora, Ele desvia pro lado, dá um murro, Ela desvia com um braço, mas Ela não contava que já vinha outro, e pega de raspão no abdômen dela. Ela se vira e acerta em cheio a barriga dele com um chute certeiro, pra mostrar como se faz. Ele recua com o golpe, mas não sem antes agarrar a perna dela e girá-la. Ela gira mas cai como se nada tivesse acontecido, em pé.

Ela se arma com uma cadeira e parte pra cima dele, ele pega outra e vai se defendendo. Cada golpe amadeirado é uma perna ou duas que se quebram até sobrarem os bastões, que usam como cassetetes policiais. Eles manejavam com perícia. Nenhum dos dois se acertava realmente, apesar de combarem com chutes devastadores e usarem o bar como arma um contra o outro. O Dono permanecia imóvel, com cara de tédio, alheio à tudo aquilo.

Livraram-se dos bastões improvisados. Ele saiu correndo em direção à Ela, até que Ela subiu a parede e pulou para trás dele metendo-lhe um chute duplo nos seus ombros e jogando-o contra a parede, bem ninjamente. Ela tentou se levantar, mas ele foi mais rápido e agarrou-lhe os calcanhares e arremeçou-a para dentro da bancada do bar, ao lado do Dono do Bar, que não se moveu.

Ela se levantou, e se armou com todas as garrafas dos whiskeys caros, e dos nem tanto assim, dos copos, e os jogou contra ele, verdadeiros projetéis que se espalhavam ao se arrebentarem. Ele esquivando-se como podia, rebatendo com chutes e golpes de mão aberta, miraculosamente sem quebrar os vidros, e levando-os a se partirem de volta contra Ela.

Acabaram-se os vidros. O Dono do Bar continuava imóvel, só que dessa vez não tinha mais copos para limpar. A música continuava.

Eles voltaram a se enfrentar com murros, chutes, cotoveladas, defesas, esquivas, chutes voadores, joelhadas, pulos seguidos de outros golpes e tudo o mais. A música acabou.

Os dois deitaram-se no chão cheio de cacos, ensanguentados, quebrados, fraturados, suados, ofegantes, e, muito estranhamente, sexys.

- Você também gosta do Mortal?
- Claro, melhor jogo do mundo, só comprei um supernintendo na época pra jogá-lo.
- Eu tenho um Play3 com o jogo novo. Quer ir lá dar uma jogadinha?
- Ótimo, não tenho nada melhor pra fazer mesmo, essa cidade é um tédio.
- Mas antes me mostra mais uma vez aquele golpe fatal da Sonya, mas um pouco menos fatal...
- Tá certo, hihi.

3 comentários:

  1. Realmente, sexys.
    MK, o melhor jogo do mundo.
    ( e eu ainda tenho meu nintendo )

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  2. Divertido. Gostei da narração. Tem bastante potencial irônico.

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