segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Canções de Apoteose

                                                                           



 I

Eu, sendo vossa Gaia,
Terra, seio e chão,
Vos ensino minha língua,
Léxico rico em prazeres,
Polissemia e ambiguidades.

Vós, seres apolíneos solares,
São Zéfiro, e algum outro deus antigo,
Filho de Hecate.
Aos poucos, vós adentrais meu panteão.

Um deus pequeno,
E o outro sob véus e sóis,
Se alimentam de minha dialética,
E eu, pacificada, me rendo.

Sou mãe, sendo também amante,
Tua Jocasta, tua Medeia também.
E não há Calisto que vença a minha voz.
Sou a voz dos tempos.

Eu, sendo raiz e tronco,
Não me faço caule nem flor,
Seiva que se esconde sob minha língua,
Eu vos beijo e vós viveis.
Assim.

Eu, sendo raiz e tronco,
Sou tão antiga quanto a primeira voz,
Conhecendo cada pedra e córrego,
Vos ensinando pelo riso e pelo cínico,
Os quais me pertencem em absoluto.



II


Poesia e liberdade não se ensinam,
Mas eu, em teimosia geológica,
Tento fluir em vos, me fazendo em água,
Barro que dá vida, de gosto acre.

Não me respirem, seres etéreos,
Sou pesada e feita de ósmio,
Quase miasmática,
Mas convosco fodo, mundana, comum,
Tornando o ar em pedra,
Derrubando, deslize, desfiladeiro de mim.

E tu, carvalho que me enraiza,
Só bastou me olhar,
E eu já abaixei minhas pedras,
E teus axiomas me transpassaram.


III


Consumo vossas belezas,
Miudezas morfológicas que me agradam,
E que me poemam.

Meu sangue não ferve,
Pétreo, górgona dos seus encantos sombrios,
Teus Perseus fazem-me Penélope,
Costurando artérias ao invés de me tornar Circe.


IV


Possuo, enfim, metafísica imantada,
Transpiro em versos e sonho mundos,
Minha palavra é criação,
E o meu poema é elemento primordial.

Onde piso novas flores brotam,
E pelo movimento das minhas mãos nascem rios,
Canto, e surge pássaros astrais,
Desejo, e vós surgis.

A matéria aquiesce minhas vontades,
Sou primordial,
Mais antiga que o Sol,
Por isso, vocês, Apolos,
Me amam antes, e me amam melhor.

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