quinta-feira, 11 de setembro de 2014





Peguei!
A estrada. Pela primeira vez, sozinho. Isso é ficar velho. Guiava o volante a 160km/h. Banal, eu sei. Mas se houvesse qualquer deslize, qualquer desatenção, poderia ser o meu fim e o de outros. A morte sempre está perto do fim do velocímetro.

Vim, apaixonado, claro. O dia estava lindo. O sol batendo no asfalto, nos lagos e baixios, e o horizonte era pintado por mata atlântica e as colinas sem cana se espalhavam pela vista. Era até fácil e gostoso observar a gradação do litoral ao agreste. Os vários tons do pincel da seca no pasto. A música também não deixava a desejar. Cd´s antigos de meus pais, cada um com uma matiz diferente de memória.

Um amigo me ligou chorando dizendo que sonhou com minha morte, o corpo perdido na BR por 2 dias, e a sua angústia de não ter atendido meu funeral. Não sabia se era sonho ou realidade quando acordou. Bem, só me sobram duas coisas a dizer:

- Que posso fazer? Sou pontual até pra morrer e ser enterrado.
- Ninguém realmente sabe se está sonhando ou se está acordado. Deal with it.

E por mais bonitinho que tenha sido saber que alguém sentiria minha falta assim, o agouro me deixou inquieto. Viajei todo fatalista e saudoso da própria vida. Me despedindo do meu amor e da minha mãe, numa gravação residual de vida, na martelada do fogo, da gasolina e das ferragens que me perfuravam os orgãos. Ai, meu rim esquerdo. Hum, que gosto de ferrugem. Eita, outro redutor. Freia, buceta.

Enfim, venci a morte. Pelo menos por hoje. Pelo menos enquanto escrevo isso. Mas tudo isso vale a pena demais. Só pra sentir de novo o calor Dele. A gente não serve pra morrer. A gente serve para transformar fotossíntese e glicose em afeto. A gente serve para amar, e ama para servir.


















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